Robert Schumann: notas para se "deixar em paz"
"O mais rápido possível." "Mais rápido." "Mais rápido ainda." Que tipo de louco proporia a sério um paradoxo tão absurdo? Pois estas instruções acompanham de fato um movimento da Sonata para piano em sol menor op. 22, de Robert Schumann.
No caso, a designação "louco" tem um sentido tristemente literal, pois este exponente do Romantismo morreu confinado num manicômio, a 29 de julho de 1856, em Endenich, nas proximidades de Bonn.
Por si só, tal fim inglório já bastaria para tornar Schumann um esqueleto no armário da história da música. Esta, quando não descamba para o voyeurismo declarado, se esmera em fornecer imagens de gênios e semideuses; se não plenamente exitosos, pelo menos glamourosamente desajustados. Vide: o persistente mito da "criança divina" Mozart.
Schumann escreveu lieder e música de câmara: mas não é o sublime Schubert. Ele compôs quatro sinfonias, concertos e centenas de peças pianísticas: mas não foi um mestre das grandes formas como o "titã" Beethoven. Contudo a (grande) lição de Schumann é justamente esta: perde tempo quem procura julgá-lo por critérios estranhos a seu próprio universo criativo.
Um paladino da música schumanniana foi o filósofo francês Roland Barthes. Assim ele sintetizou esse caráter não-grandiloqüente, anti-retórico, antititânico: "A música pianística de Schumann, que é difícil, não suscita a imagem do virtuosismo; não podemos tocá-la nem de acordo com o velho delírio nem com o novo estilo. Essa música é intimista (o que não significa suave), ou melhor, particular, mesmo individual, refratária à abordagem 'profissional', uma vez que tocar Schumann implica uma inocência técnica que poucos artistas podem alcançar".
De forma mais concisa, o pianista András Schiff transmitiu a mesma mensagem, ao dizer: é preciso deixar as notas de Schumann "em paz", a música fala por si.
Das leis ao piano Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: A casa de Schumann em ZwickauRobert Alexander Schumann nasceu em Zwickau, Saxônia, no dia 8 de junho de 1810. Na qualidade de editor e escritor, seu pai lhe proporcionou contato com a fina flor da literatura da época, de Lord Byron e Jean Paul a toda uma legião de poetas. Robert começara a estudar piano relativamente tarde, aos oito anos, sem demonstrar talento pronunciado. Em 1826, após a morte do pai, foi enviado a Leipzig para cursar Direito.
Uma carta à mãe, em 1829, marca a guinada surpreendente na trajetória do jovem intelectual: "Cheguei à conclusão de que, com trabalho, paciência e um bom professor, seria capaz de ultrapassar qualquer pianista, num prazo de seis anos. Além disso, tenho imaginação e talvez habilidade para um trabalho de criação individual". No ano seguinte, anotaria em seu diário: "Sou excelente em música e poesia, mas não um gênio musical. Meus talentos de músico e de poeta estão no mesmo nível".
O "bom professor" era ninguém menos do que Friedrich Wieck, que se tornaria seu sogro e pior inimigo. Sob a promessa (não cumprida) de deixar de fumar charutos e, sobretudo, beber tanto, Schumann se mudou em outubro de 1830 para a casa do mestre. De início sua filha, Clara, pianista-prodígio de apenas 11 anos de idade, não interessava em especial o jovem músico.
Ambicioso e não necessariamente o mais paciente dos seres humanos, Schumann resolveu literalmente pôr mãos à obra, aplicando-se o "quiroplasta", um aparelho então na moda, com o fim de favorecer a independência do dedo recalcitrante. Combinado com uma média de sete horas de estudo por dia, o resultado foi uma grave inflamação dos tendões e paralisia total do dedo médio da mão direita.
Esta é a versão tradicional. Pesquisas mais recentes fornecem uma explicação (um pouco) menos bizarra para esta tragédia na vida do músico saxão. Como havia contraído sífilis, por volta de 1830 ele se submetera ao tratamento então em voga: mercúrio e/ou arsênico. Segundo o biógrafo Eric Sams, pode ter sido esta a causa original da inércia digital de Schumann, anterior ao emprego do quiroplasta. E, em última análise, a causa de sua morte.
Seja como for, a terapia da paralisia resultante não foi mais feliz: "banhos animais" (inserção das mãos em carcaças de animais recém-abatidos), choques elétricos e dietas experimentais provam-se inúteis. Em 1832 os sonhos de virtuose de Robert estavam definitivamente enterrados.
Clara e Robert: simbiose e destruição Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Retrato do casal Robert e Clara SchumannNos anos seguintes inicia-se um romance entre ele e a segunda filha de seu mestre, Clara. Wieck fica horrorizado com a perspectiva de ter como genro o jovem – que agora taxa de beberrão e perdido – e se opõe com toda a autoridade paterna à ligação. Somente após uma longa batalha judicial Robert desposa Clara, em 1840.
O casal Schumann é possivelmente um dos mais anticonvencionais da história da música: uma mistura de simbiose, apoio incondicional e perniciosidade. Profissionalmente, Clara representou um papel complementar, quase compensatório na vida de Robert: à medida que ele era forçado a renunciar ao piano, ela ascendia como concertista. Uma carreira entrecortada, é certo, por freqüentes gestações (o casal teve oito filhos).
Alguns estudiosos chegam a classificar as notórias escapadas homossexuais do compositor durante os anos de casamento como um bem-vindo alívio para Clara. Cinismo à parte, a morte do marido foi uma libertação para ela, que pôde finalmente realizar seu brilhante destino de pianista, Clara Schumann sobreviveu ao marido ainda 40 anos, falecendo aos 77 anos em Frankfurt do Meno.
1840: Compositor Robert Schumann desposa Clara Wieck
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Casa onde morou Schumann, em Zwickau
Robert Alexander Schumann (1810-1856) nasceu em Zwickau, Saxônia. Na qualidade de editor e escritor, seu pai lhe proporcionou contato com a fina flor da literatura da época, de Lord Byron e Jean Paul a toda uma legião de poetas. Robert começara a estudar piano relativamente tarde, aos oito anos, sem demonstrar talento pronunciado. Em 1826, após a morte do pai, foi enviado a Leipzig para cursar Direito.
Uma carta à mãe, em 1829, marca a guinada surpreendente na trajetória do jovem intelectual: "Cheguei à conclusão de que, com trabalho, paciência e um bom professor, seria capaz de ultrapassar qualquer pianista num prazo de seis anos. Além disso, tenho imaginação e talvez habilidade para um trabalho de criação individual". No ano seguinte, anotaria em seu diário: "Sou excelente em música e poesia, mas não um gênio musical. Meus talentos de músico e de poeta estão no mesmo nível".
O "bom professor" era ninguém menos do que Friedrich Wieck, que se tornaria seu sogro e pior inimigo. Sob a promessa (não cumprida) de deixar de fumar charutos e, sobretudo, de beber tanto, Schumann se mudou em outubro de 1830 para a casa do mestre. De início, a segunda filha dele, Clara, pianista-prodígio de 11 anos de idade, não interessa ao jovem músico em especial.
Simbiose e destrutividade
Nos anos seguintes desenvolve-se um tumultuado romance entre Schumann e a jovem, marcado por encontros secretos e escapadas. Wieck fica horrorizado com a perspectiva de ter como genro o jovem – que agora taxa de beberrão e perdido – e se opõe com toda a autoridade paterna à ligação. Somente após uma longa batalha judicial Robert desposa Clara, em 12 de setembro de 1840.
O casal Schumann é possivelmente um dos mais anticonvencionais da história da música: uma mistura de simbiose, apoio incondicional e perniciosidade. Profissionalmente, Clara representou um papel complementar, quase compensatório na vida de Robert: à medida que ele era forçado a renunciar ao piano, ela ascendia como concertista. Uma carreira entrecortada, é certo, por frequentes gestações (o casal teve oito filhos).
Alguns estudiosos chegam a classificar as notórias escapadas homossexuais do compositor durante os anos de casamento como um bem-vindo alívio para Clara. Cinismo à parte, a morte do marido foi uma libertação para ela, que pôde finalmente realizar seu brilhante destino de pianista, Clara Schumann sobreviveu ao marido ainda 40 anos, e continuou tocando em público até março de 1891. Ela faleceu em 20 de maio de 1896 em consequência de um derrame, aos 77 anos de idade, em Frankfurt.
Fonte:
DW- WORD.DE - DEUTSCHE WELLE
Calendário Histórico -2010
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