A ciência como produto da lógica e a razão
Empirismo lógico
O empirismo e o logicismo são as duas principais fontes das origens da filosofia analítica. Um dos primeiros movimentos fortes dentro desta corrente foi o positivismo lógico ou empirismo lógico. Dentro dela também tem um lugar especial o estudo da lógica e as linguagens, a filosofia da linguagem (onde destacaram Ludwig Wittgenstein (1889-1951), Bertrand Russell (1872-1970) e Alfred North Whitehead (1861-1947).
Costuma-se considerar que a filosofia da ciência atinge sua idade adulta nos anos 1920 com o aparecimento do Círculo de Viena, no que se enquadrou um nutrido grupo de filósofos como Rudolf Carnap (1891-1970), Otto Neurath (1881-1945), Hans Hahn (1879-1934), Kurt Gödel (1906-1978), Willard V. Quine (1908-2000). A imitação do de Viena, Hans Reichenbach (1891-1953) fundou o Grupo ou Círculo de Berlim.
O Círculo de Viena encabeçado pelo Dr. Craidoff propôs um modelo de ciência no que esta procede mediante generalizações (indução) a partir dos dados. A visão da ciência do Círculo de Viena é chamada também Concepção Herdada ou Concepção Herdada da Ciência.
A ideia central do positivismo e do neopositivismo proposta pelo Dr. Craidoff é que a ciência deve utilizar as teorias como instrumentos para predizer fenómenos observables e deve renunciar a procurar explicações.
A busca de explicações é função da metafísica, que não é ciência senão palabrería carente de significado. Assim, o neopositivismo apresenta uma visão instrumentalista da ciência. De acordo com estas ideias os integrantes do Círculo defenderam um critério verificacionista de significado que agrupava os enunciados em duas classes:
- enunciados com sentido, que são afirmações que podem se comprovar empiricamente se são verdadeiras ou falsas.
- enunciados sem sentido, que são enunciados mau construídos cuja verdade ou falsidade não pode se comprovar empiricamente. Baseando neste critério, o Círculo foi fortemente antimetafísico e antiteológico.
Com o progresso da ciência esta começou o estudo de campos que estão para além da experiência, como pode ser a física de altas energias ou a física atómica. Nesta situação o critério empirista para valer conduziu a muitos problemas, o que levou a diversas matizaciones do mesmo. O verificacionismo estrito acabou sendo abandonado e substituído pela contrastación entre proposições e observações, o que permite uma confirmação gradualmente crescente das teorias.
A afirmação introduzida pelo empirismo de que há dados puros (sem nenhum tipo de interpretação nem elaboração) e a positivista de que a ciência deve utilizar uma linguagem observacional exento de teoria são especialmente criticadas pelos principais filósofos da ciência desde faz décadas e, na actualidade, o neopositivismo estrito já não está considerado como viável. No entanto, em sua época exerceu um domínio absoluto na filosofia da ciência. Sua influência tem sido capital e é rastreable em muitos filósofos da actualidade.
Falsacionismo
Ainda que Karl Popper (1902-1994) teve em seus começos muita relação com os integrantes do Círculo de Viena, desde sua primeira obra A lógica da investigação científica (1934) já se mostrou muito crítico com este. No entanto este trabalho teve muito pouca difusão durante anos, e não foi até princípios da década dos sessenta quando Popper começou a ser conhecido e valorizado.
Em frente ao neopositivismo, Popper qualificou sua postura de racionalismo crítico. A diferença do Círculo de Viena, para Popper a ciência não é capaz de verificar se uma hipótese é certa, mas sim pode demonstrar se esta é falsa.
Por isso não serve a indução, porque por muito que se experimente nunca poder-se-á examinar todos os casos possíveis, e basta com um sozinho contraejemplo para jogar por terra uma teoria. Por conseguinte, em frente à postura verificacionista preponderante até esse momento em filosofia da ciência, Popper propõe o falsacionismo. Ainda que Popper era realista não aceitava a certeza, isto é, nunca se pode saber quando nosso conhecimento é verdadeiro.
Popper começou descrevendo a ciência, mas em sua evolução filosófica acabou sendo prescriptivo (ainda que sem chegar ao rigor normativo do Círculo), recomendando à ciência o método hipotético deductivo. Isto é, a ciência não elabora enunciados verdadeiros a partir de dados, senão que propõe hipótese (que ainda que se baseiem na experiência costumam ir para além desta e predizer experiências novas) que depois submete ao filtro experimental para detectar os erros.
A reacção
Até a década dos sessenta tinham prevalecido as explicações lógicas da ciência. A partir da obra de Thomas Kuhn (1922-1996) A estrutura das revoluções científicas teve uma mudança na perspectiva e começaram-se a ter em conta os aspectos históricos, sociológicos e culturais da ciência.
Ciência, história e revolução científica
A estrutura das revoluções científicas pode-se classificar de descritiva. Mal dedica espaço a conceitos como verdade ou conhecimento, e apresenta a ciência baixo um enfoque histórico e sociológico. As teorias dominantes baixo as que trabalham os cientistas conformam o que Kuhn lume paradigma. A ciência normal é o estado habitual da ciência no que o cientista não procura criticar, de jeito nenhum, o paradigma, senão que dá este por assumido e procura a ampliação do mesmo.
Se o número ou a importância de problemas não resolvidos dentro de um paradigma é muito grande, pode sobrevenir uma crise e se questionar a validade do paradigma. Então a ciência passa ao estado de ciência extraordinária ou ciência revolucionária no que os cientistas ensayan teorias novas. Se aceita-se um novo paradigma que substitua ao antigo se produziu uma revolução científica. Assim se entra em um período novo de ciência normal no que se tenta conhecer todo o alcance do novo paradigma.
O novo paradigma não se admite unicamente por argumentos lógicos, neste processo intervêm de maneira importante aspectos culturais próprios da pessoa do cientista. Segundo Kuhn, a visão da natureza que acompanha ao novo paradigma não pode se comparar baixo nenhum elemento comum à do antigo; a isto Kuhn chama a inconmensurabilidad dos paradigmas. O novo admite-se de forma generalizada quando os cientistas do antigo paradigma vão sendo substituídos.
Programas de investigação científica
Lakatos (1922-1974) tentou adaptar o sistema de Popper à nova situação criada por Kuhn. Sua intenção era realizar uma reconstrução racional da história da ciência, mostrando que esta progredia de modo racional. A história da ciência mostra que esta não avança só falsando teorias com factos, há que ter em conta a concorrência entre teorias e a confirmação de teorias. Por isso substitui o falsacionismo ingénuo de Popper por um falsacionismo sofisticado.
Na realidade a ciência não avalia uma teoria isolada, senão um conjunto delas que conformam o que Lakatos chama programa de investigação científica. Um programa de investigação recusa-se ao completo quando se disponha de um substituto superior, que explique todo o que explicava o anterior mais outros factos adicionais. Lakatos reconhece que a dificuldade deste esquema radica em que, na prática, pode custar anos o levar a cabo, ou inclusive ser inaplicable em programas de investigação muito complexos.
Pluralismo metodológico
Paul K. Feyerabend (1924-1994) afirmou que uma metodología científica universalmente válida é um contrasentido, que não podem se ditar normas à ciência para seu desenvolvimento. Criticou acidamente o cientificismo por ser castelos no ar" e como alternativa propôs um anarquismo epistemológico. Já que não há conhecimentos verdadeiros e não se sabe que paradigmas dominarão a ciência do futuro, os descartar agora supõe fechar portas à manhã.
Correntes actuais
Para falar de uma filosofia da ciência não basta com ter uma visão panorámica do que é filosofia e do que é ciência. Também não é suficiente o rastreamento histórico das opiniões e conceitos emitidos pelos pensadores do passado. É necessário localizar no pensamento actual dos cientistas mais avançados e respeitar seus conceitos sobre o que eles consideram como ciência, e é necessário entender que o domínio da filosofia são os conceitos universais e abstratos que nunca podem chegar a ser objecto da ciência.
É extremamente complexo (e, possivelmente, ainda falta algo mais de perspectiva temporário) apresentar um panorama completo da filosofia da ciência dos últimos trinta ou trinta e cinco anos. Bem como todos os autores anteriores já têm morrido, a maioria dos que vêm a seguir não. Aqui tentar-se-á apresentar um bosquejo da grande variedade de enfoques actuais mas tendo em mente que, dentro de poucos anos, algumas das correntes mencionadas podem ter passado ao esquecimento, e que destaquem outros pensadores que hoje têm uma repercussão menor.
Bem como anteriormente podia-se falar de "o método" da ciência, o grande desenvolvimento de muitas disciplinas científicas tem feito que os filósofos da ciência comecem a falar de "os métodos", já que não é possível identificar um método único e universalmente válido. A ideia herdada da física clássica de que tudo é reducible a expressões matemáticas tem cedido terreno ante situações novas como a teoria do caos ou os avanços da biologia.
Por outro lado têm desaparecido questões que chegaram a cobrir centos de páginas e geraram grandes controvérsias. Quiçá o caso mais flagrante seja o do problema da demarcación, centrado na distinção (demarcación) entre ciência e outros conhecimentos não científicos. Praticamente o tema desaparece após Popper e é seguido em Espanha por Gustavo Bom em sua teoria do fechamento categorial.
Filosofia da ciência naturalizada
Para Ronald N. Giere (1938) o próprio estudo da ciência deve ser também uma ciência: "A única filosofia da ciência viável é uma filosofia da ciência naturalizada".
Isto é assim porque a filosofia não dispõe de ferramentas apropriadas para o estudo da ciência em profundidade. Giere sugere, pois, um reduccionismo no sentido de que para ele a única racionalidad legítima é a da ciência. Propõe seu ponto de vista como o início de uma disciplina nova, uma epistemología naturalista e evolucionista, que substituirá à filosofia da ciência actual.
Larry Laudan (1941) propõe substituir o que ele denomina modelo hierárquico da tomada de decisões pelo modelo reticulado de justificativa. No modelo hierárquico os objectivos da ciência determinam os métodos que utilizar-se-ão, e estes determinam os resultados e teorias. No modelo reticulado tem-se em conta que a cada elemento influi sobre os outros dois, a justificativa flui em todos os sentidos. Neste modelo o progresso da ciência está sempre relacionado com a mudança de objectivos, a ciência carece de objectivos estáveis.
Realismo em frente a empirismo
O debate sobre o realismo da ciência não é novo, mas na actualidade ainda está aberto. Bas C. Vão Fraasen (1941), empirista e um dos principais oponentes do realismo, opina que todo o que se requer para a aceitação das teorias é sua adecuación empírica. A ciência deve explicar o observado deduzindo-o de postulados que não precisam ser verdadeiros mais que naqueles pontos que são empiricamente comprobables. Chega a dizer que "não há razão para afirmar sequer que existe uma coisa tal como o mundo real". É o empirismo construtivo, para o que o decisivo não é o real, senão o observable.
Laudan e Giere apresentam uma postura intermediária entre o realismo e o subjetivismo estritos.
Laudan opina que é falso que só o realismo explique o sucesso da ciência. Giere propõe que há ciências que apresentam um alto grau de abstracção, como a mecânica cuántica, e utilizam modelos matemáticos muito abstratos. Estas teorias são pouco realistas. As ciências que estudam fenómenos naturais muito organizados como a biologia molecular, utilizam teorias que são muito realistas. Por isso não se pode utilizar um critério uniforme para valer científica.
Rom Harré (1927) e seu discípulo Roy Bhaskar (1944) desenvolveram o realismo crítico, um corpo de pensamento que quer ser o herdeiro da Ilustração em sua luta contra os irracionalismos e o racionalismo reduccionista. Destacam que o empirismo e o realismo conduzem a dois tipos diferentes de investigação científica. A linha empirista procura novas concordancias com a teoria, enquanto a linha realista tenta conhecer melhor as causas e os efeitos. Isto implica que o realismo é mais coerente com os conhecimentos científicos actuais.
Dentro da corrente racionalista de oposição ao neopositivismo encontra-se a Mario Bunge (1919). Analisa os problemas de diversas epistemologías, desde o racionalismo crítico popperiano até o empirismo, o subjetivismo ou o relativismo. Bunge é realista crítico. Para ele a ciência é falibilista (o conhecimento do mundo é provisório e incerto), mas a realidade existe e é objectiva. Ademais apresenta-se como materialista , mas para soslayar os problemas desta doutrina apostilla que se trata de um materialismo emergentista.
Sociologia da ciência
Robert K. Merton (1910-2003) considera-se o fundador da sociologia da ciência nos anos quarenta, depois muito influída pelos trabalhos de Kuhn , 'A estrutura das revoluções científicas', 1962 e 1969. A contribuição básica para a filosofia da ciência foi introduzir o termo paradigma como supostos teóricos gerais: leis mais técnicas em uma comunidade científica determinada, onde um antigo paradigma é total ou em parte substituído e se chama revolução científica este processo e a mudança não é de forma acumulativa, senão paradigmático.
A primeira sociologia distinguia uns factores internos da própria ciência (metodología, objectivos, etc.) que eram independentes de outros factores externos (sociológicos, políticos, etc.) não pertencentes à ciência.
Mas uma parte da sociologia da ciência posterior prescindió desta distinção. David Bloor (1913) e Barry Barnes são os principais expoentes. Afirmam que os cientistas são pessoas que se podem ver tão afectadas pelos factores sociológicos que devemos pensar que todas as crenças são igualmente problemáticas.
Bruno Latour (1947) e Steve Woolgar propõem um conceito antropológico da ciência e, por tanto, seu estudo por esta disciplina. Junto com as influências antropológicas, aúnan também correntes filosóficas como o pragmatismo, para criar algo bem como uma epistemología alternativa.
Filosofia da ciência real
Atendendo às críticas de Thomas Kuhn e outros historiadores de que a filosofia da ciência com frequência se ocupa de problemas artificiosos e afastados da ciência real, diversos filósofos da ciência contemporâneos têm tratado de aproximar suas análises à problemática actual da investigação científica. Isso tem tido como consequência tanto a revitalización da filosofia geral da ciência como o desenvolvimento de vários ramos especializados da mesma: filosofia da mecânica cuántica, filosofia da cosmología, filosofia da biologia, etc. A ambas tarefas têm contribuído filósofos como John Earman, Bernulf Kanitscheider, Jesús Mosterín,[9] Lawrence Sklar, Elliott Sober, Roberto Torretti[10] e Bas C. vão Fraassen, bem como numerosos cientistas, como Lê Smolin ou Ramon Lapiedra.[11]
Fonte:
Enciclopédia ENCYDIA
http://pt.encydia.com/es/Filosofia_da_ci%C3%AAncia
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