Henri Bergson
e
A Evolução Criadora
“A vida como um todo não é nenhuma abstracção.
Em determinado momento surgiu em certos lugares do espaço uma corrente vital que, através dos organismos desenvolvidos, vai passando de um germe a outro.
A corrente vital procura vencer os obstáculos que a matéria lhe opõe; a materialidade de um organismo representa a totalidade dos obstáculos contornados pela vida. A vida não procede logicamente, erra de quando em quando, acumula-se em becos sem saída ou até volta para trás.
Contudo, o ímpeto vital geral persiste. A fim de poder desdobrar-se, élan vital divide-se em várias direcções. Assim, surgiu, em primeiro lugar, a grande divisão do reino vegetal e do reino animal: as plantas acumulam directamente a energia, para que os animais possam hauri-la nelas e disponham da mesma como de matéria explosiva para a acção livre.
Contudo, o ímpeto vital geral persiste. A fim de poder desdobrar-se, élan vital divide-se em várias direcções. Assim, surgiu, em primeiro lugar, a grande divisão do reino vegetal e do reino animal: as plantas acumulam directamente a energia, para que os animais possam hauri-la nelas e disponham da mesma como de matéria explosiva para a acção livre.
As plantas estão ligadas à terra e, nelas, a consciência ainda se encontra entorpecida; só desperta no mundo animal.
O élan vital subdivide-se ainda no mundo animal em duas direcções diferentes, como se experimentasse dois métodos: numa direcção culmina nos insectos sociais, na outra encontra seu acabamento no homem.
O élan vital subdivide-se ainda no mundo animal em duas direcções diferentes, como se experimentasse dois métodos: numa direcção culmina nos insectos sociais, na outra encontra seu acabamento no homem.
Na primeira direcção, a vida busca mobilidade e flexibilidade mediante o instinto, ou seja, mediante a capacidade de utilizar ou até mesmo de criar instrumentos orgânicos; o instinto conhece seus objectos por simpatia, desde dentro, e age de modo infalível mas sempre uniforme.
Ao invés, nos vertebrados desenvolve-se a inteligência, isto é, a faculdade de fabricar e utilizar instrumentos anorgânicos. Por sua essência profunda, a inteligência não se orienta para as coisas, mas para as relações, para as formas; conhece seu objecto só por fora. Contudo, suas formas vazias podem encher-se de inumeráveis objectivos e indefinidamente.
A Inteligência perfeita ultrapassa suas fronteiras primitivas e pode até encontrar aplicação fora do campo prático, para o qual foi propriamente criada.
Finalmente, aparece no homem, embora só em forma de fugazes arranques, a intuição, na qual o instinto se tornou desinteressado e capaz de reflectir sobre si mesmo. Além disso, o homem é livre. Todo este curso evolutivo conduz, portanto, a libertação da consciência do homem, e este aparece como o fim último da organização vital sobre o nosso planeta.“
Tradução de António Pinto de Carvalho.
in A Filosofia Contemporânea Ocidental.
in A Filosofia Contemporânea Ocidental.
Nenhum comentário:
Postar um comentário