terça-feira, 14 de setembro de 2010

Como superar obstáculos






Sejam felizes todos os seres.
Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.

ALGAS MARINHAS MULTIUSO

Algas marinhas multiuso Algas podem fornecer moléculas para remédios,
biocombustíveis, tintas e filtros solares, indica Projeto Temático
conduzido no Instituto de Química da USP por Pio Colepicolo
(foto: Samuel Iavelberg)

Algas marinhas multiuso

Por Fábio Reynol

– O Brasil guarda debaixo d’água um reservatório valioso para o fornecimento de produtos como medicamentos, combustíveis e até mesmo um filtro solar natural de ótimo desempenho.
São as algas marinhas, cujo potencial muito além dos sushis foi destacado pelo professor Pio Colepicolo Neto, do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (IQ-USP), no Workshop sobre biodiversidade marinha: avanços recentes em bioprospecção, biogeografia e filogeografia, realizado pelo Programa Biota-FAPESP e que termina nesta sexta-feira (10/9), na sede da Fundação.

Colepicolo coordena o Projeto Temático “Estudos de bioprospecção de macroalgas marinhas, uso da biomassa algal como fonte de novos fármacos e bioativos economicamente viáveis e sua aplicação na remediação de áreas impactadas (biodiversidade marinha)”, que também integra o Biota-FAPESP.
“Por estarem expostas a ambientes e situações adversas, as algas desenvolvem, como metabólitos secundários, moléculas químicas extremamente sofisticadas e diferentes das estruturas produzidas por plantas terrestres”, disse à Agência FAPESP.

Segundo o cientista, já se sabe que as algas marinhas desempenham uma função fundamental no ambiente: elas respondem por cerca da metade do oxigênio liberado na atmosfera; delas saem o dimetil sulfeto, principal gás responsável pela formação de nuvens; são biorremediadoras de águas poluídas; e podem ser utilizadas como um biomarcador de poluição. Colepicolo também mostrou que as algas podem ser fornecedoras de compostos únicos e extremamente complexos.

“Essas moléculas encontram vasta aplicação na indústria farmacêutica ao servir de base para a fabricação de antiinflamatórios, antifúngicos, antivirais, bactericidas, antioxidantes e mais uma enorme gama de produtos que podem ser desenvolvidos de forma inovadora, estratégica e economicamente importante para o Brasil”, destacou.

As aplicações dessas substâncias vão além da medicina. Na agricultura, por exemplo, antifúngicos extraídos de macroalgas podem ser aplicados sobre frutas como mamão, morango e figo e, com isso, pode-se aumentar o tempo de vida útil da fruta na prateleira de três a quatro semanas.
“Podemos ganhar até um mês de viabilidade em produtos agrícolas que são exportados”, disse o professor da USP, ressaltando a importância econômica de aplicações como essa.

Outro grande potencial das micro e macroalgas marinhas é fornecer o princípio ativo para protetores solares naturais. Há cinco anos, em um outro projeto apoiado pela FAPESP sob a coordenação de Colepicolo, o grupo de pesquisa isolou de macroalgas da costa brasileira as micosporinas (MAA), substâncias químicas de baixo peso molecular, com alta capacidade de absorver radiação ultravioleta (UV).

Algumas micosporinas são também antioxidantes. Essas substâncias têm a finalidade de protegê-las contra os efeitos danosos de UV, função exercida pelos flavonoides nas plantas terrestres.
Por ficarem mais expostas ao sol, as algas tropicais são as que mais apresentam substâncias resistentes aos raios UV. Esses protetores solares naturais das algas são particularmente importantes para os biomas marinhos, pois também fornecem proteção solar a outros organismos como peixes, moluscos, zooplâncton e corais.

“As algas marinhas produzem essas substâncias e muitos peixes adquirem proteção solar ao se alimentar desses organismos fotossintetizantes”, explicou o pesquisador.
O fenômeno do branqueamento de corais é causado pela ausência desses protetores naturais fornecidos pelas algas. A ausência das algas que vivem em simbiose com os corais os deixam expostos à radiação. Com isso, eles acabam sofrendo a ação direta dos raios UV, perdem coloração e morrem. Ambientalmente, esse efeito é extremamente danoso, pois perdem-se componentes importantes do equilíbrio ecológico marinho.
O desempenho do protetor natural também chamou a atenção dos pesquisadores. Em testes, o absorvedor de UV das algas apresentou um espectro de absorção muito próximo ao mais eficiente produto sintético vendido no mercado.

“A indústria cosmética poderá se beneficiar de dois efeitos do produto – sua ação antioxidante e de proteção contra UV – e, com isso, oferecer produtos com ação sinérgica contra o estresse oxidativo, câncer de pele e envelhecimento precoce”, afirmou.
Colepicolo estima que, além de protetores para a pele, as micosporinas poderão ser usadas na base de tintas e vernizes para proteger materiais que ficam expostos à luz solar, como prédios e barcos.

Biocombustíveis
O pesquisador também abordou no workshop as perspectivas de produção de algas marinhas em regiões próximas à costa brasileira, um subprojeto integrante do Projeto Temático. “As fazendas de cultivo de macroalgas ajudariam a preservar as espécies, uma vez que evitam a extração e eventual predação dessas plantas em seu ambiente natural”, disse.

Em parceria com a professora Eliane Marinho-Soriano, do Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Colepicolo espera desenvolver sustentabilidade em cultivos integrados que envolvam a criação de organismos diferentes.
A primeira experiência é o cultivo de macroalgas e a criação de camarões em um único tanque do tamanho de um campo de futebol, em média, a 1,5 metro de profundidade.

A cada três meses, mesmo tempo de crescimento ideal das macroalgas, os camarões são coletados e as águas eutrofizadas dos tanques são devolvidas aos mangues da região. Com os cultivos integrados, as macroalgas colaboram para a purificação da água absorvendo o excesso de nitrogênio, fosfato e outros resíduos para seu desenvolvimento, servindo assim de biorremediadoras ambientais.

“A parceria com a professora Eliane da UFRN é muito importante. No Rio Grande do Norte há alta incidência de radiação solar, o que aumenta a produtividade das algas”, disse Colepicolo, explicando que a luz solar aumenta a velocidade de desenvolvimento e de reprodução das plantas aquáticas.
Para o professor da USP, as algas podem ainda ser uma boa fonte de biocombustíveis e suprir a demanda por biodiesel que não consegue ser atendida somente pelas fontes animais e vegetais terrestres atuais. Esse também é um dos braços de pesquisa contemplados pelo Projeto Temático.

Para esse objetivo, o pesquisador defende o melhoramento de cultivos e a aplicação de engenharia molecular, além de pesquisas em extração e refino do óleo de alga. Esses esforços poderiam tornar o combustível de alga competitivo em relação ao similar obtido do petróleo.

“A bioenergia de algas tem duas frentes diferentes de pesquisa. Primeiramente, as microalgas, ricas em lipídios, ou gorduras, são ideais para a fabricação de biodiesel”, disse Colepicolo, ressaltando que, diferentemente dos vegetais terrestres, o cultivo de algas não necessita de fertilizantes nem de pesticidas.
“Já as macroalgas possuem um alto teor de açúcar. Algumas espécies apresentam entre 50% e 60% de seu peso seco em polissacarídeos. São açúcares que, ao serem degradados por enzimas específicas, transformam-se em monômeros fermentáveis que dão origem ao etanol”, completou.

As macroalgas podem participar das pesquisas do etanol de terceira geração provenientes de carboidratos. “Trata-se de uma alternativa sustentável e ecologicamente correta, pois só usa água salgada e luz solar para crescer e não é necessária a utilização de agrotóxicos e fertilizantes”, disse.
Mais informações: www2.iq.usp.br/docente/piocolep
Fonte:
10/9/2010
Por Fábio Reynol
Agência FAPESP
 
 

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ROBERT SCHUMANN

 

Robert Schumann: notas para se "deixar em paz"

Há 150 anos o compositor natural da Saxônia falecia num asilo para doentes mentais. Oscilando entre a poesia e a música, ele ocupa um lugar único na história da música.


"O mais rápido possível." "Mais rápido." "Mais rápido ainda." Que tipo de louco proporia a sério um paradoxo tão absurdo? Pois estas instruções acompanham de fato um movimento da Sonata para piano em sol menor op. 22, de Robert Schumann.

No caso, a designação "louco" tem um sentido tristemente literal, pois este exponente do Romantismo morreu confinado num manicômio, a 29 de julho de 1856, em Endenich, nas proximidades de Bonn.
Por si só, tal fim inglório já bastaria para tornar Schumann um esqueleto no armário da história da música. Esta, quando não descamba para o voyeurismo declarado, se esmera em fornecer imagens de gênios e semideuses; se não plenamente exitosos, pelo menos glamourosamente desajustados. Vide: o persistente mito da "criança divina" Mozart.

Schumann não é Beethoven Porém Schumann é uma figura problemática não apenas por razões biográficas. O modesto cantinho que a posteridade lhe reservou – onde ele se encontra provavelmente assoviando uma melodia infinita e solitária, como em seus últimos anos de vida – é o dos que foram excelentes, sem chegar a ser "grandes" ou "gênios". Como quer que se definam estes termos.

Schumann escreveu lieder e música de câmara: mas não é o sublime Schubert. Ele compôs quatro sinfonias, concertos e centenas de peças pianísticas: mas não foi um mestre das grandes formas como o "titã" Beethoven. Contudo a (grande) lição de Schumann é justamente esta: perde tempo quem procura julgá-lo por critérios estranhos a seu próprio universo criativo.

Um paladino da música schumanniana foi o filósofo francês Roland Barthes. Assim ele sintetizou esse caráter não-grandiloqüente, anti-retórico, antititânico: "A música pianística de Schumann, que é difícil, não suscita a imagem do virtuosismo; não podemos tocá-la nem de acordo com o velho delírio nem com o novo estilo. Essa música é intimista (o que não significa suave), ou melhor, particular, mesmo individual, refratária à abordagem 'profissional', uma vez que tocar Schumann implica uma inocência técnica que poucos artistas podem alcançar".

De forma mais concisa, o pianista András Schiff transmitiu a mesma mensagem, ao dizer: é preciso deixar as notas de Schumann "em paz", a música fala por si.

Das leis ao piano A casa de Schumann em ZwickauBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  A casa de Schumann em ZwickauRobert Alexander Schumann nasceu em Zwickau, Saxônia, no dia 8 de junho de 1810. Na qualidade de editor e escritor, seu pai lhe proporcionou contato com a fina flor da literatura da época, de Lord Byron e Jean Paul a toda uma legião de poetas. Robert começara a estudar piano relativamente tarde, aos oito anos, sem demonstrar talento pronunciado. Em 1826, após a morte do pai, foi enviado a Leipzig para cursar Direito.

Uma carta à mãe, em 1829, marca a guinada surpreendente na trajetória do jovem intelectual: "Cheguei à conclusão de que, com trabalho, paciência e um bom professor, seria capaz de ultrapassar qualquer pianista, num prazo de seis anos. Além disso, tenho imaginação e talvez habilidade para um trabalho de criação individual". No ano seguinte, anotaria em seu diário: "Sou excelente em música e poesia, mas não um gênio musical. Meus talentos de músico e de poeta estão no mesmo nível".

O "bom professor" era ninguém menos do que Friedrich Wieck, que se tornaria seu sogro e pior inimigo. Sob a promessa (não cumprida) de deixar de fumar charutos e, sobretudo, beber tanto, Schumann se mudou em outubro de 1830 para a casa do mestre. De início sua filha, Clara, pianista-prodígio de apenas 11 anos de idade, não interessava em especial o jovem músico.

A história do dedo O bon mot provavelmente não é original, mas a verdade é que o dedo anular representa o calcanhar de Aquiles dos pianistas. Encurralado entre os tendões dos vizinhos, o quarto dedo é menos independente e mais penoso de "adestrar" do que todos os outros, quer o brutal polegar, quer o débil mínimo.
Ambicioso e não necessariamente o mais paciente dos seres humanos, Schumann resolveu literalmente pôr mãos à obra, aplicando-se o "quiroplasta", um aparelho então na moda, com o fim de favorecer a independência do dedo recalcitrante. Combinado com uma média de sete horas de estudo por dia, o resultado foi uma grave inflamação dos tendões e paralisia total do dedo médio da mão direita.

Esta é a versão tradicional. Pesquisas mais recentes fornecem uma explicação (um pouco) menos bizarra para esta tragédia na vida do músico saxão. Como havia contraído sífilis, por volta de 1830 ele se submetera ao tratamento então em voga: mercúrio e/ou arsênico. Segundo o biógrafo Eric Sams, pode ter sido esta a causa original da inércia digital de Schumann, anterior ao emprego do quiroplasta. E, em última análise, a causa de sua morte.

Seja como for, a terapia da paralisia resultante não foi mais feliz: "banhos animais" (inserção das mãos em carcaças de animais recém-abatidos), choques elétricos e dietas experimentais provam-se inúteis. Em 1832 os sonhos de virtuose de Robert estavam definitivamente enterrados.

Clara e Robert: simbiose e destruição Retrato do casal Robert e Clara SchumannBildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift:  Retrato do casal Robert e Clara SchumannNos anos seguintes inicia-se um romance entre ele e a segunda filha de seu mestre, Clara. Wieck fica horrorizado com a perspectiva de ter como genro o jovem – que agora taxa de beberrão e perdido – e se opõe com toda a autoridade paterna à ligação. Somente após uma longa batalha judicial Robert desposa Clara, em 1840.

O casal Schumann é possivelmente um dos mais anticonvencionais da história da música: uma mistura de simbiose, apoio incondicional e perniciosidade. Profissionalmente, Clara representou um papel complementar, quase compensatório na vida de Robert: à medida que ele era forçado a renunciar ao piano, ela ascendia como concertista. Uma carreira entrecortada, é certo, por freqüentes gestações (o casal teve oito filhos).

Alguns estudiosos chegam a classificar as notórias escapadas homossexuais do compositor durante os anos de casamento como um bem-vindo alívio para Clara. Cinismo à parte, a morte do marido foi uma libertação para ela, que pôde finalmente realizar seu brilhante destino de pianista, Clara Schumann sobreviveu ao marido ainda 40 anos, falecendo aos 77 anos em Frankfurt do Meno.
 
Augusto Valente

1840: Compositor Robert Schumann desposa Clara Wieck

No dia 12 de setembro de 1840, o compositor se casa com Clara (1819-1896), apesar da resistência do pai dela, o pianista Friedrich Wieck. Um capítulo marcante para um dos casais menos convencionais da história da música.


Robert Alexander Schumann (1810-1856) nasceu em Zwickau, Saxônia. Na qualidade de editor e escritor, seu pai lhe proporcionou contato com a fina flor da literatura da época, de Lord Byron e Jean Paul a toda uma legião de poetas. Robert começara a estudar piano relativamente tarde, aos oito anos, sem demonstrar talento pronunciado. Em 1826, após a morte do pai, foi enviado a Leipzig para cursar Direito.

Uma carta à mãe, em 1829, marca a guinada surpreendente na trajetória do jovem intelectual: "Cheguei à conclusão de que, com trabalho, paciência e um bom professor, seria capaz de ultrapassar qualquer pianista num prazo de seis anos. Além disso, tenho imaginação e talvez habilidade para um trabalho de criação individual". No ano seguinte, anotaria em seu diário: "Sou excelente em música e poesia, mas não um gênio musical. Meus talentos de músico e de poeta estão no mesmo nível".

O "bom professor" era ninguém menos do que Friedrich Wieck, que se tornaria seu sogro e pior inimigo. Sob a promessa (não cumprida) de deixar de fumar charutos e, sobretudo, de beber tanto, Schumann se mudou em outubro de 1830 para a casa do mestre. De início, a segunda filha dele, Clara, pianista-prodígio de 11 anos de idade, não interessa ao jovem músico em especial.

Simbiose e destrutividade
Nos anos seguintes desenvolve-se um tumultuado romance entre Schumann e a jovem, marcado por encontros secretos e escapadas. Wieck fica horrorizado com a perspectiva de ter como genro o jovem – que agora taxa de beberrão e perdido – e se opõe com toda a autoridade paterna à ligação. Somente após uma longa batalha judicial Robert desposa Clara, em 12 de setembro de 1840.

O casal Schumann é possivelmente um dos mais anticonvencionais da história da música: uma mistura de simbiose, apoio incondicional e perniciosidade. Profissionalmente, Clara representou um papel complementar, quase compensatório na vida de Robert: à medida que ele era forçado a renunciar ao piano, ela ascendia como concertista. Uma carreira entrecortada, é certo, por frequentes gestações (o casal teve oito filhos).

Alguns estudiosos chegam a classificar as notórias escapadas homossexuais do compositor durante os anos de casamento como um bem-vindo alívio para Clara. Cinismo à parte, a morte do marido foi uma libertação para ela, que pôde finalmente realizar seu brilhante destino de pianista, Clara Schumann sobreviveu ao marido ainda 40 anos, e continuou tocando em público até março de 1891. Ela faleceu em 20 de maio de 1896 em consequência de um derrame, aos 77 anos de idade, em Frankfurt.
Augusto Valente 

Gênio e loucura: há 200 anos nascia o compositor Robert Schumann

Zwickau, Leipzig, Dresden e Düsseldorf são estações da vida do compositor, que acabou em um manicômio perto de Bonn. No bicentenário de seu nascimento, as cidades pelas quais passou relembram esse autor romântico.


Robert Alexander Schumann nasceu em 8 de junho de 1810, em Zwickau, Saxônia. Dotado de um duplo talento, literário e musical, ele deixou uma obra abrangente, que inclui desde canções e miniaturas para piano até óperas e sinfonias. Além disso, trabalhou como crítico, professor e regente. O outro lado dessa capacidade criativa, no entanto, era uma personalidade marcada pela doença e pela depressão.
Schumann demorou bastante até se decidir entre a literatura e a música. Do pai herdou o amor pelas letras e consta que sua mãe era extremamente musical. Aos sete anos de idade, tomou as primeiras aulas de piano e escreveu suas primeiras composições, mas também redações, poesias e fragmentos de romances. Como logo já tocava melhor do que seu professor, resolveu continuar os estudos de piano como autodidata.
Originalmente destinado à carreira jurídica, ele deixou sua cidade natal para estudar Direito em Leipzig. Porém lá a vida tomou um rumo imprevisto: Robert começou a estudar composição e fundou, juntamente com o professor de piano Friedrich Wieck, a revista Neue Zeitschrift für Musik, existente até hoje.
Casamento inspirador
O jovem músico também ficou conhecendo a filha de Wieck, a jovem pianista Clara, fato que não agradou em absoluto ao ambicioso pai. Com todos os meios à sua disposição, ele tentou impedir essa ligação. Os dois conseguiram, porém, vencê-lo após longa batalha judicial, casando-se em 1840, quando Clara completou 21 anos de idade.
O casal viveu quatro anos em Leipzig e os primeiros tempos de matrimônio foram inspiradores para Schumann: logo brotaram de sua pena diversos ciclos de canções, quartetos de cordas, peças pianísticas, as primeiras sinfonias, o Concerto para piano em lá menor, o oratório Das Paradies und die Peri. Ele foi nomeado doutor honoris causa da Universidade de Jena e conseguiu se lançar como compositor.
A popularidade de sua música era, todavia, restrita: Ludwig van Beethoven, Felix Mendelssohn e Frédéric Chopin correspondiam bem mais ao gosto de sua época. Mesmo a esposa Clara executava suas obras, no máximo, como "bis" em seus concertos. Uma humilhação agravada pelo fato de que, mesmo durante suas turnês, ele era frequentemente reconhecido apenas como o marido da afamada virtuose.
Assim, a convocação como diretor musical da cidade de Düsseldorf chegou como um fio de esperança para o compositor.
Decepção renana
No entanto, o entusiasmo inicial dos Schumann pela Renânia logo se desfez. Robert não se adaptou às pressões do cargo, os sintomas de depressão e alucinações se tornaram cada vez mais graves. Frequentemente ele passava noites em claro, queixando-se das peças musicais inteiras que lhe retumbavam na cabeça. Apesar de tudo, um terço de sua obra foi composta durante os quatro anos vividos em Düsseldorf, inclusive os concertos para violino e para violoncelo, a Missa opus 147 e o Réquiem.
Com a visita do jovem Johannes Brahms aos Schumann, nasceu uma amizade profunda e duradoura. Robert afundava, contudo, cada vez mais num estado de confusão mental. Em 27 de fevereiro de 1854, atirou-se ao Rio Reno. Foi salvo, mas passou seus dois últimos anos de vida num asilo para doentes mentais em Endenich, próximo a Bonn.
Em comemoração ao bicentenário de Robert Schumann estão programados numerosos eventos nas diferentes estações de sua vida, na Alemanha. Em Zwickau, ele é relembrado com uma série de concertos e um concurso pianístico. Leipzig e Dresden lhe dedicam diversos concertos e exposições. E o Instituto Heinrich Heine, de Düsseldorf, exibe tesouros selecionados de sua Coleção Schumann.
Autor: Gudrun Stegen / Augusto Valente
Revisão: Soraia Vilela

Carta do compositor alemão Robert Schumann é descoberta em arquivo

Aos 18 anos, o estudante de Direito e futuro compositor escreveu uma carta ao seu tutor, pedindo ajuda financeira para se manter em Leipzig. Documento descoberto no arquivo de Zwickau revela detalhe de sua juventude.


O bibliotecário Jürgen Schünzen encontrou na noite desta terça-feira (02/03) uma carta até agora desconhecida do compositor romântico Robert Schumann (1810-1856). A carta, datada de 15 de junho de 1828, foi descoberta no arquivo da cidade alemã de Zwickau, durante os preparativos para a mostra Schumanniana, a ser inaugurada neste sábado (06/03).

Segundo Schünzen, o documento foi encontrado em uma ata "pouco pesquisada" do arquivo. "Dificilmente alguém no último século a teve em mãos", contou.

Na época em que redigiu a carta, Schumann acabara de completar 18 anos e começara a estudar Direito em Leipzig, cidade no leste da Alemanha. Segundo Schünzen, não foi fácil decifrar a carta em que o jovem pede ajuda financeira ao seu tutor, o empresário Johann Gottlob Rudel.

Antes de morrer, em 1826, o pai do compositor, August Schumann, havia se disposto a financiar os estudos do filho, contou Schünzen. Para isso, o jovem estudante tinha que se dirigir ao seu tutor.
A carta explica que apenas o aluguel lhe custava por ano entre 50 e 60 táleres, antiga moeda alemã. O jovem escreve que 25 táleres por mês eram suficientes para sua subsistência e pergunta como o dinheiro poderia chegar às suas mãos.

Schumann foi um dos músicos mais aclamados da primeira metade do século 19. Suas composições para piano e seus lieder estão entre as principais obras do romantismo. O compositor nasceu há 200 anos em Zwickau, cidade na qual a carta foi descoberta.

DD/ap/dpa
Revisão: Simone Lopes
 Fonte:
DW- WORD.DE - DEUTSCHE WELLE
Calendário Histórico -2010