FIEIRA DE HAICAIS
{ Fieira de Haicais, de José Marins & Sérgio Pichorim,
haicais encadeados,é uma adaptação lúdico-poética
do renga (poema ligado em estrofes),sem nenhuma pretensão.
“Fieira” é ´fio´, e um dos significados é “encadeamento”.
Essa “fieira” segue a idéia do renga (sem o dístico após
o terceto,mas sim outro haicai), faz ligação com o anterior,
traz o kigo quando possível e retrata as estações).
Em Curitiba, as estações são definidas, ou não.
cipó de ipomeia
a cor violeta das flores
na luz da tarde.
-
josé marins
a cor violeta das flores
na luz da tarde.
-
josé marins
silenciosamente
nas esquinas da cidade.
eis a primavera.
Sérgio Pichorim
ipês florescidos
abrem a nova estação
manhã de amarelo
José Marins
Imenso amarelo
Plantado ao lado da rua.
Espetacular!
Sérgio Pichorim
pétalas no chão.
mesmo as pequenas brisas
fazem-nas correr.
Sérgio Pichorim
eis que nas árvores
as folhas de tenro verde.
ao brilho do sol.
Sérgio Pichorim
enfim nas folhagens
o prateado das gotinhas
do orvalho vernal
José Marins
passa de manhã
agasalho com menina
primavera fria
José Marins
acordo e desligo
o meu despertador...
cantos de sabiá.
José Marins
miúdas e brancas
as flores da pitangueira
quem diz sua idade?
José Marins
com a mesma cor
do uniforme do gari.
mulungu florido.
Sérgio Pichorim
sementes do ipê
amadurecem nas vagens
só o vento as leva
José Marins
mais uma vez
a chuva de primavera
velas apagadas
José Marins
chegaram as chuvas.
sementes na terra arada
é o recomeço.
Sérgio Pichorim
de saia rajada
uma flor desconhecida
orquídea-dançarina?
José Marins
abelha visita
as flores de caliandra
bonsai na varanda
José Marins
também lá no campo
os insetos têm fartura.
catião florido.
Sérgio Pichorim
parque Bariguí
o canto do tico-tico
entre tantos outros.
José Marins
cinco da manhã.
antes de qualquer outro
canta o siriri.
Sérgio Pichorim
depois da espetada,
a mão da esposa colhendo
flor de laranjeira.
José Marins
pitangueira.
com pontinhos vermelhos
já está pintada.
Sérgio Pichorim
foto de uma cor
lilaz dos jacarandás
nos galhos em flor
José Marins
longe em viagem...
as cores da primavera
na carta do amigo.
Sérgio Pichorim
olhares atentos
para as patas-de-vaca
flores temporãs
José Marins
um rio com salgueiros...
como escrever haicais
em terra estranha?
Sérgio Pichorim
as pedras do parque
agora dormem cobertas
pelo capim novo
José Marins
Canção de ninar.
A chuva que vai e vem
sobre o meu telhado.
Sérgio Pichorim
palmeira da praça
como um folguedo cultivo
este contemplar
José Marins
margem do iguaçu.
aqui e lá o amarelo
das acácias em flor.
Sérgio Pichorim
com o que sonha
a lagarta adormecida?
com céus? com asas?
Sérgio Pichorim
de repente o voo
de uma flor do manacá.
borboleta azul.
Sérgio Pichorim
manacá-de-cheiro
nestas asas que lhe tocam
seu perfume voa
José Marins
a banana fica
intocada sobre o muro
se foi o sanhaço
José Marins
silêncio da noite
para o esplendor da lua
toda a imensidão
José Marins
pássaro cativo.
não pode participar
da festa no bosque.
Sérgio Pichorim
com chuva ou sol
os aloés do meu jardim
estão florescendo
José Marins
em todo o lugar
como se fosse magia.
babosas floridas.
Sérgio Pichorim
árvore vermelha
poderia ser o nome
desta tulipeira
José Marins
e aquela outra
é ainda mais vermelha.
um liquidâmbar.
Sérgio Pichorim
vento súbito.
saem da mesma árvore
pássaros e folhas.
Sérgio Pichorim
um galho apodrece
em um canto do jardim.
cogumelos brancos.
Sérgio Pichorim
alvuras no verde
as orquídeas-sapatinho
florindo mais cedo
José Marins
florzinhas vermelhas
a borboleta amarela
em voos circulares.
José Marins
um voo rasante
em frente a minha janela.
pica-pau-campeiro.
Sérgio Pichorim
nada de chilreios
os pardais só abrem os bicos
às suas quireras
José Marins
casal de mãos dadas
parado no meio da rua
cerejeira em flor
José Marins
são poucos minutos
até que abra o sinal.
um pé de ipê roxo.
Sérgio Pichorim
cheio de botões
o ipê rosa está pronto
encanto do bairro
José Marins
entre folhas secas
a árvore se renova.
uma cerejeira.
Sérgio Pichorim
garoa no quintal
os galhos do pessegueiro
ainda sem flores
José Marins
a chuva sem fim.
o gramado ficou rosa
com a cerejeira.
Sérgio Pichorim
caminhada à tarde
pés nas poças depois das
azáleas floridas.
José Marins
ANJO DE QUINTANA
José Marins
Anjo Malaquias
onde andam seus pés
de acompanhar poetas,
desde que Quintana se foi?
Anjo Malaquias
nada tenho para te oferecer,
além de receios ou passos vãos,
viajo sorvido pelo sonho.
Anjo Malaquias
se puder olhar por mim,
teus olhos de poesia e luz,
vela por meus versos tão miúdos.
Anjo Malaquias
quando vier com suas asas
de transparência e luar,
traga-me da alegria e do humor
de Mário Quintana.
Um pouco que seja
de quintanares letras,
e siga-me na estrada do poeta
essa que faço na esteira dos nadas.
José Marins
{ Fieira de Haicais, de José Marins & Sérgio Pichorim,
haicais encadeados, é uma adaptação lúdico-poética
do renga (poema ligado em estrofes),
sem nenhuma pretensão. “
Fieira” é ´fio´,
e um dos significados
é “encadeamento”. }
trabalhos:
- POEZEN – (haicais) – Curitiba, Araucária Cultural, 1985.
- Pinha-Pinhão, Pinhão-Pinheiro (renga haicais encadeados, em parceria com Sérgio Francisco Pichorim), Curitiba, Araucária Cultural, 2005.
- Karumi (100 haicais, inédito).
- Bico do João-de-Barro (100 haicais, inédito).
- Haibun (40 textos de prosa poética e haicai, inédito).
- É membro deste Centro de Letras do Paraná. www.jornaldepoesia.jor.br/josemarins.html
- 1o. lugar nos 14o. e 15o. Encontro Brasileiro de Haicai, Campinas em 2002 e 2003.
-Jurado nos concursos dos encontros seguintes.
- Participa do grupo de discussão do haicai brasileiro, Haikai-l (v.links) desde 1999. Haicais publicados no Jornal Nippo-Brasil;
-Co-autor do renga "Pinha-Pinhão Pinhão-Pinheiro", com José Marins, Curitiba, Araucária Cultural, 2004.
-Autor de "Bem Te Vi - haicais de um vivente", pequena tiragem em 2003 e de "Che Paraná Porã", Curitiba, Araucária Cultural, 2006.
www.site.pop.com.br/pichorim
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