FRASES DE CLARICE LISPECTOR
- Não se preocupe em "entender". Viver ultrapassa todo entendimento.
Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
-Eu sou uma pergunta.
- O jogo de dados de um destino é irracional ? É impiedoso.
Sobre um livro que lhe emprestaram quando era criança...
-Chegando em casa não comecei a ler.
Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.
-Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte.
O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz,
cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações.
-Estou tentando abrir um túnel na rocha bruta. Eu sei, sei que é penoso.
Mas qual é a busca que em si mesma não traga sua pena?
Se uma pessoa perguntar durante meia hora a palavra 'eu',
essa pessoa se esquece quem é. Outras podem enlouquecer.
É mais seguro não fazer jamais perguntas - porque nunca se atinge
o âmago de uma resposta. E porque a resposta traz em si outra pergunta.
- Quero pintar uma tela branca. Como se faz? É a coisa mais difícil do mundo.
QUADROS PINTADOS POR CLARICE
- A nudez. O número zero. Como atingi-los? Só chegando, suponho, ao núcleo
último da pessoa.
-...A vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por
acaso descobrir a palavra salvadora.
-Me justificar mais do que a vida? No mundo das coisas, quando sei que
elas vão acabar, começo a fruí-las. Tenho medo de estar viva.
-O mundo inteiro teme a própria vida. A morte é coisa que não é nossa.
Mas a vida, a vida é, e eu morro de medo de respirar.
- Uma vez irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma desta vez. O espírito,
eu o terei entregue à família e aos amigos, com recomendações. Não será
difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo.
-Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei,
qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através
de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão.
De tigre, eu preferiria...
- Não é fácil escrever. É duro quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas com
aços espelhados.
-Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras
as entrelinhas.
- Minha liberdade é escrever. A palavra é o meu domínio sobre o mundo.
- Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir.
- Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma
falando e cantando, às vezes chorando...
-A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente.
- Como é ruim ser paciente, como eu tenho medo de ser uma "escritora"
bem instalada, como eu tenho medo de usar minhas próprias palavras, de me
explorar...
- Fiquei com vontade de chorar mas felizmente não chorei, porque quando
choro fico tão consolada...
- Não se pode falar de silêncio como se fala de neve. Não se pode dizer a
ninguém como se diria da neve: Sentiu o silêncio desta noite ? Quem ouviu não diz.
Tenho que falar pois falar salva. Mas não tenho uma só palavra a dizer.
- Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender
é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou
muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo,
é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser
inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser
doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em
quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: pelo
menos entender que não entendo.
- Há três coisas para as quais nasci e para as quais eu dou minha vida.
- Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos.
- Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém
estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
- Sou brasileira naturalizada, quando, por uma questão de meses, poderia
ser brasileira nata. Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu
pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor. Comecei a escrever
pequenos contos logo que me alfabetizaram, e escrevi-os em português, é claro.
Criei-me em Recife.
- O ato criador é perigoso", disse numa entrevista, "porque a gente pode ir
e não voltar mais. Todo artista sofre um grande risco. Até de loucura.
-Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível
fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário