domingo, 27 de março de 2011

SANTO AGOSTINHO: A VERDADE E A FELICIDADE RESIDEM EM DEUS - Miguel Duclós




Santo Agostinho
Por Miguel Duclós

    Este texto procura elucidar brevemente os pontos do pensamento agostiniano que são necessários para poder compreender porque, para este autor, o homem pode conhecer apenas pela graça divina, mas tem o dever moral de preparar sua alma e seu corpo para receber esta luz e de fazer bom uso do livre-arbítrio. Procurei fazer associações despretensiosas com outros traços da cultura anterior a sua época, como a mitologia helênica. 

    No Livro VII das Confissões e no diálogo O Livre Arbítrio , Agostinho argumenta especificamente sobre o problema do mal. Tem ele o mal como algo presente, e nos primeiros livros das Confissões , identifica-o em sua infância e na sua juventude libertina, ocorridas antes do episódio de agosto de 386 que o levou à conversão, (1)e antes de sua convivência com Santo Ambrósio, que o batizou e a quem chama de agente de Deus. 

    Sendo Deus eterno e imutável, autor de coisas muito boas, qual é, então, a origem do mal? Agostinho sabe, quando isto pergunta, que a origem do mal é tradicionalmente explicada pela Igreja Católica com a queda do Arcanjo Lúcifer. Embora as referências Bíblicas ao Maligno como ex-Arcanjo sejam escassas, e o próprio nome Lúcifer (formado a partir do latim lux ) e a hierarquia angelical tenham sido forjadas com o decorrer da Idade Média, ainda assim encontramos algumas passagens bíblicas que ilustram bem este tema daqueles que querem ser como Deus e por isso são punidos.

Alguns exemplos estão no Velho Testamento, em Isaías 14:
    ”12 Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filha da alva! como foste lançado por terra, tu que debilitava as nações!

    13 E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei meu trono, e no monte da congregação me assentarei, da banda dos lados do norte.

    14 Subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo.

    15 E contudo levado será ao inferno, ao mais profundo do abismo. “(2)

    Ou no Novo Testamento, no Apocalipse segundo São João, no capítulo 12, onde há uma mulher, possivelmente virgem Maria, que dá à Luz um varão “que há de reger todas as nações com vara de ferro” e é tentada pelo Dragão da maldade, que após isso tem de enfrentar as tropas celestiais: 

    ”7 E houve uma batalha no céu. 
Miguel e seus anjos batalhavam contra o dragão, 
e batalhava o dragão e seus anjos. 

    Mas não prevaleceu, nem mais o seu lugar se achou nos céus.
    E foi precipitado o grande Dragão, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele.”


    Satanás na terra tenta os homens,
mas o Apocalipse prossegue explicando
que é vencido pelo poder do Cordeiro, o Jesus Cristo. 

    Não podemos também esquecer que no Gênesis, a Serpente consegue seduzir Eva prometendo-lhe que esta ficaria igual a Deus se comesse o fruto proibido, e era por isso que Deus lhe proibira. Realmente, após comer a queda, Deus fala para seus anjos: ” E eis que o homem é um de nós, sabendo o que é bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a tua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e via eternamente” ( Gen, 3, 22). Começa então, segundo a Bíblia, a condição miserável do homem, obrigado a trabalhar para garantir seu sustento, e a se abrigar para fugir do frio. Este trecho sugere que o homem estará eternamente condenado a escolher entre o Bem e o Mal. Então, tanto a queda do primeiro anjo quanto a queda do primeiro homem é causada por um ato livre de vontade, em que se pretende ser igual a Deus. 

    No capítulo 3 do livro VII das Confissões , Agostinho se pergunta, a respeito de Lúcifer: “E se por uma decisão de sua vontade perversa, se transformou de anjo bom em demônio, qual é a origem daquela vontade má com que se mudou em diabo, tendo sido criado Anjo perfeito, por um criador tão bom?”. Logo, não ignora o problema da origem do mal tal qual a Igreja Católica o explica, mas vai ainda além, perguntando a origem da perversão da vontade nas criaturas boas criadas por Deus. 

    A argumentação segue considerando que, naturalmente, o mal não provém de Deus, mas está nas coisas criadas e na matéria. As coisas criadas “não existem absolutamente nem totalmente deixam de existir” (Livro VII, cap 11). As coisas existem enquanto participam da Suma Existência, daquele que é, do Imutável, e deixam de existir quando se afastam dele. As coisas que se corrompem são boas ao menos em parte, pois não haveria o que se corromper se fossem totalmente más.

Porém, não são como Deus, absolutamente boas, pois se assim fosse seriam incorruptíveis. Assim, o mal ocorre quando as criaturas se afastam de da existência, ou seja, o mal não existe propriamente, mas é um não-ser. Tudo é verdadeiro enquanto existe e a falsidade só ocorre quando se toma por existente o não existente. Agostinho no capítulo 16 do livro VII, chega à definição do mal como uma perversão da vontade desviada da Substância Suprema – Deus. 

    Se Deus é a suma Existência e a Suma Bondade, os seres para alcançar a verdade tem de procurá-lo. Julgar que o caminho para se atingir a verdade seja humano, ou dependa apenas de esforços humanos, constitui soberba, pois a verdade é externa e independente do homem. Para Agostinho, o conhecimento da Verdade depende em última instância da Graça Divina, que agracia apenas alguns escolhidos. Qual é o dever moral do homem então, qual é o seu campo de ação, se ele parte em busca da verdade sem saber se a vai encontrar? Procurarei tratar deste tópico a seguir. 

    Como aponta Novaes, em seu artigo “Nota sobre o problema da universalidade em Agostinho, do ponto de vista da relação entre fé e razão”, Agostinho destoa tanto dos aristotélicos, quanto dos estóicos e epicuristas em sua concepção de felicidade. Os primeiros tomam a felicidade como uma atividade da alma em consonância com a virtude, os segundos como um vigor da alma e os terceiros como a vontade do corpo. Para um cristão, porém, a felicidade é um dom de Deus. 

Não obstante, o homem deve procurá-la através da purificação da alma. Para purificar a alma o homem tem de reconhecer a condição miserável da humanidade após o pecado original, e tem de ter a humildade de reconhecer o a felicidade como alheia a si.

O homem tem de se tornar digno de receber a graça. 

A idéia da ascese da alma é muito importante também para os platônicos e neoplatônicos (3), que influenciaram Agostinho profundamente. Mas Agostinho vê nesta doutrina o erro crucial de Porfírio, por não ter reconhecido que o verdadeiro caminho não é humano, mas provém do Absoluto, de Deus. (4) 

    O homem é mais especial que as outras criações de Deus, e que os outros seres dotados de alma (animais), pois tem uma alma racional. O homem é especial porque foi feito à imagem e semelhança de Deus. {5} No Gênesis, antes da queda, Deus concede ao homem que usufrua livremente da terra. Para Agostinho, a semelhança do homem com o seu criador é a razão. Deus, conhecedor de todas as coisas, possui também a razão infinita. Porém a razão humana está corrompida, e distante da divina. 

O homem tem um “déficit moral”, 
e por isso não consegue cumprir plenamente 
a sua natureza de animal racional.

E mesmo os bebes já nascem no pecado, como exemplifica Agostinho em sua autobiografia, quando se recrimina pelo seu deleite durante o amamentamento. 

Os desejos e as paixões impedem um bom uso da razão, e impedem uma vida contemplativa. Mesmo ao se recolher em seu monastério, se entregando à devoção religiosa ao lado de companheiros como Alípio e Evódio, Agostinho nunca conseguiu se livrar das preocupações mundanas. Era afastado do otium intelectuale , por exemplo, pelas suas obrigações com o povo em suas funções sacerdotais ou familiares. 

    O problema do pecado original é fundamental para compreender-se o que se segue, por isso me demorarei um pouco mais nele. Antes de comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, a alma encontrou sua perfeição no paraíso. Livre de dúvidas e incertezas, o homem apenas era no seio da natureza. Nada foi negado a Adão e Eva, e eles estavam integrados à toda criação, circulando livremente e de maneira abençoada. Mas a vontade é infinita, e ao homem foi dado o poder de escolher. 

Assim, seduzida pela serpente Eva desobedece ao único mandamento até então, e o homem, sabendo o que é mal e o que é bem, pode escolher entre os dois, e pode portanto, se afastar do Bem do Supremo Ser. Ele passa a poder querer o mal, e é sobre este ponto de vista que a purificação da alma deve ser entendida. Esta é necessária para a escolha certa quando a graça se apresentar. 

A liberdade, para Agostinho, vem a ser a capacidade consciente e reflexa que tem o espírito de determinar por si e espontaneamente, a querer e preferir acima de tudo o Bem absoluto e perfeito, do modo que este se lhe apresente, e nunca preferindo nada contrário. Deus, do alto, abarca a todos aqueles que o invocam com um olhar e pode iluminar alguns com sua graça. Muitos são chamados, mas poucos escolhidos.
   
Esta é a causa dos pecados da humanidade,
o livre-arbítrio. 

Pela perversão da vontade o homem escolhe a privação do ser. Este quadro só encontra redenção em Jesus Cristo, o mediador entre Deus e os homens. O cristão tem de aceitar pela fé o mistério da Trindade, que Jesus Cristo é o verbo encarnado, vindo ao mundo terrenos e morto pelos homens, para redimir a humanidade. É preciso pois, que o homem tenha fé, e acredite em algo além de si e do mundo sensorial, em algo invisível. Precisa ter a humildade de admitir seu “déficit moral” e que o caminho da verdade lhe é extraposto (NOVAES, 34). 

    A purificação da alma para receber a revelação é feita de várias formas. Agostinho defende ardorosamente um ascetismo, chegando a condenar o casamento e a procriação, e a cantar a maravilha do celibato. O homem precisa se livrar das paixões, e por paixões entende-se tudo aquilo que move (ou comove) a alma. Somente uma alma estável é capaz de perceber a Idéia. Para esta elevação do espírito, é necessário também o auto-conhecimento. (6)
 
   Estando a alma purificada, está preparado o terreno para conhecer. A fé chama a razão para algo além dela própria, para o mistério. À razão cabe investigar os conteúdos da fé. Como aponta Novaes, não há uma oposição entre estas duas formas de conhecer, porém uma reciprocidade, uma completude, uma convergência. 

“Para entender, com o intuito de entender, 
uma condição é crer. 
Mas o que é entendido, o que é inteligido, 
exige novamente a fé, e assim por diante.”
(NOVAES, 41). 

Há uma precedência do invisível sobre o visível, do transcendente (inteligível) sobre o sensível. A alma é hierarquicamente superior ao corpo. O homem precisa crer para entender. (7) Este entendimento é feito racionalmente, Mas o conhecimento da razão divina ultrapassa em muito a finitude da razão humana, e por isso o homem precisa novamente da fé para alcançar o conhecimento, sendo que este não se esgota nunca, nem quem bebe do conhecimento de Deus sacia sua sede. (8)
  
  No Livro X das Confissões Agostinho faz uma brilhante exposição sobre a memória, chegando mesmo a dizer que a memória é o espírito, ou a parte mais importante da alma humana. Nesta exposição está contida o grosso da doutrina Agostiniana de reminiscência, e suas adaptações em relação ao platonismo. Farei mais um vôo panorâmico para explicá-la.
   
A memória era importante já desde a cultura helênica clássica. Na Teogonia de Hesíodo ela aparece como parte da primeira geração divina, como uma deusa, filha de Urano e Géia ( mnemósina ), que, amada por Zeus, foi mãe das nove Musas. De uma forma geral, pode-se dizer que sem memória não é possível conhecer. A memória está também associada ao destino das almas quando a morte ocorre e ela deixa o corpo, para ir ao Hades. Existe um poema órfico (9) que pretende guiar a alma ao chegar na mansão de Hades: (10) 

    ”Encontrarás à esquerda da Mansão do Hades, uma fonte,
    E a seu lado, um branco cipreste.
    Não te aproximas deste manancial.
    Mas encontrarás um outro junto à Fonte da Memória,
    De onde fluem águas frescas e, diante das quais há guardiões.
    Diz-lhes: “Sou um filho da terra e do céu estrelado;
    Mas minha raça é do céu (somente). Vós próprio o sabeis.
    E – ai de mim! – estou ressequido de sede, e pereço. Dai-me rapidamente
    A água fresca que flui da Fonte da Memória”.
    E eles mesmos te darão de beber do manancial sagrado,
    E desde então tu dominarás entre os outros heróis”.
(11)

    As almas puras devem beber da sagrada fonte da memória, ao passo que as almas impuras devem banhar-se no rio Lete afim de se esquecer de seus “pecados” e iniquidades e poderem reencarnar. As almas puras poderão manter seu Ser e habitar junto aos deuses, em companhia dos heróis.
    Mas voltemos à Agostinho. Diz o bispo de Hipona que nos recônditos do palácio da memória estão guardados todas as sensações e vivências dos indivíduos. Nas inúmeras concavidades e recônditos secretos estas imagens apresentam-se à inteligência, que as une, relaciona e ordena. 

Algumas imagens que residem na memória são fornecidas pelos sentidos, mas o entendimento que reside na memória não é. No livro X, capítulos 10-12 das Confissões , o autor exemplifica afirmando que, apesar de ter ouvido haver três espécies questões (12), não foi por nenhum dos sentidos do corpo que atingiu o significado contido nestes sons, mas o viu somente em espírito. Da mesma maneira, as inúmeras regras dos números e das dimensões estão guardadas na memória, mas não vieram pelos sentidos. Como resume Agostinho “os números são uma coisa e as idéias que eles exprimem outras”. (13) 

    De uma forma diferente, a felicidade também habita na memória. O homem antes do pecado original, foi em um tempo feliz, e ainda há resquícios desta felicidade. A vida feliz só pode ser alcançada quando se busca a Deus. É voltando a ele que o homem atinge a verdadeira felicidade, e seu ser se completa. 

Como diz Agostinho, “Tarde Vos Amei, Senhor”, pois sem que ele o soubesse, Deus sempre esteve presente em sua vida, e sua desesperança só teve fim quando retornou à Deus, ou quando se lembrou de Deus. Esta volta só pode ser feita por intermédio do Cristo. A teoria agostiniana de reminiscência afasta-se da teoria platônica, contudo. Nesta, a alma contempla as Formas eternas antes de nascer, em outro mundo. (14) Em Agostinho a contemplação da luz divina não é uma lembrança da vivência anterior da alma, mas uma irradiação presente. Deus ilumina o intelecto com sua luz, tornando-o capaz de conhecer segundo sua ordem natural. 

    Para Agostinho, todos os homens querem ser alegres e felizes, mas a verdadeira alegria só vem de Deus. A carne e seus apelos, a matéria, podem levar o homem a confundir-se e fazer aquilo que pode fazer, mas não aquilo que realmente quer fazer. Deus é a felicidade porque é a verdade. E a alegria reside na verdade. Esta é uma só, e Deus a sua fonte. Reside ela na memória, pois, como exemplifica Agostinho, desde o episódio de sua iluminação em que encontrou a serenidade de espírito, Agostinho encontrou sempre a mesma verdade, e dela se lembrou. Desde que conheceu a Deus, dele se esqueceu, e este permanece em sua memória como fonte de suas delícias. 

    Resumindo, o homem deve invocar a Deus, mas este já habita nele. Para voltar a encontrar a verdade, tem de purificar sua alma, livrando-se principalmente do orgulho e da soberba, das comoções da carne, seguindo exemplo de Jesus Cristo, que foi ao mesmo tempo Deus e homem, verbo imortal e carne perecível. Este morreu para salvar o homem do pecado original.
    Em último lugar, gostaria de fazer umas breves associações com Platão, não obstante as advertências dos perigos de “platonizar Agostinho”, que me levam a fazê-las timida e superficialmente, na forma de lembrança. 

    Também em Platão o homem deve procurar a virtude, deve levar a vida corretamente. Mas o problema da ascese da alma não é meramente humano, como critica Agostinho. Afinal, vê-se no Mênon e no Protágoras , que, em última instância são os escolhidos aqueles que alcançarão a verdade. Péricles, exemplo de homem virtuoso, não conseguiu ensinar a virtude aos seus filhos. É feita uma associação com as três Moiras (ou parcas), as Deusas do destino, a quem até mesmos os outros deuses, como Zeus, estão submetidos.

É por escolha dos deuses (graça divina? ) que são designados os daimons aos homens. O próprio Sócrates, é de certa forma, escolhidos pelos deuses, como vaticinou o Oráculo de Delfos ao apontá-lo como o mais sábios dos homens, ou como indicam o seu guia interior, a voz do daimon que lhe mostrava o caminho certo ( Apologia de Sócrates ), ou o sonho místico que teve na prisão, às vésperas de ser executado, tal como é descrito em Críton . Apesar disso, em Platão, aquele que procura a verdade também tem de enfrentar um duro caminho de purificação, através da ascese dialética, e há igualmente uma forte ascendência da alma sobre o corpo- que no Fédon chega a ser negativizado.
   
Em Platão, o tema do mal também é bastante presente. Gostaria apenas de salientar que no Protágoras , chega-se à conclusão que nenhum homem deseja o mal (assim como Agostinho) , mas o escolhe apenas por ignorância do que seja o bem.
Notas
  1. Este episódio pode assim ser descrito brevemente: Agostinho buscava angustiado a solução para o problema da existência, em um sofrido conflito consigo mesmo, quando, no jardim de sua casa cai em pranto e se afasta do seu companheiro Alípio. Chorava então na sombra de uma figueira, clamando a Deus por uma solução, quando ouve uma voz de criança oriunda das vizinhanças, que em canto repetia “Toma e lê, Toma e lê”. Interpreta isso como um sinal para que leia alguma lição evangélica ao acaso, a exemplo do que ocorrera com Antão. Volta então à companhia de Alípio, aonde havia deixado a Bíblia e lê uma passagem de Paulo de Tarso. Seu coração então é penetrado pela luz da serenidade e sua alma inundada pela paz. Esta conhecida historieta, interpretada como um milagre, é narrada no capítulo 12 do Livro VIII das Confissões .
  2. A tradução usada da Bíblia foi a de João Ferreira de Almeida. Este trecho, contudo, é controverso, pois no início deste capítulo Isaías dá a entender que se trata de um poderoso tirano da Babilônia, possivelmente Nabucodonossor.
  3. Pode-se dizer de uma maneira geral a maior parte da obra de Platão está identificada com a procura da definição e prática da virtude. O tema da superioridade da alma sobre o corpo, e de sua purificação durante a vida para que não seja punida após a morte é explicitado, por exemplo no último livro da República e no diálogo Fédon .
  4. Esta desavença está mostrada em Sermo 150, 7, 9 apud Novaes, Moacyr, op. cit . Porfírio, como se sabe, foi o organizador das obras do principal neoplatônico, Plotino, este por sua vez discípulo de Amônio Sacas.
  5. Gen 1, 27 , que diz : “E criou o homem à sua imagem e semelhança, à imagem de Deus o criou: macho e fêmea os criou”. Uma nota destoante de nossos propósitos, mas interessante é a observação de que a criação da fêmea está contida neste versículo, porém Eva só é criada posteriormente em 2, 21. Isto deu origem à lenda de Lilibith, que teria sido a primeira companheira de Adão, símbolo máximo da feminilidade arrebatada.
  6. O tema do auto conhecimento – a essência, afinal, das Confissões , é, como sabemos, caro para toda a tradição filosófica, desde a sua origem. Platão no início do Protágoras encara este ( gnôthi s´authon - Conhece-te a ti mesmo) um dos princípios máximos da antiga filosofia Lacedemônica, sendo depois inscrito na entrada do Oráculo de Delphos. O outro princípio máximo dos lacedemônicos era “Nada em excesso”, que está de pleno acordo com o tema da mediania, da justa medida, da prudência, que permeia tanto a mitologia quanto a filosofia grega – por exemplo na Ética a Nicômaco de Aristóteles, aonde este define a virtude como um meio termo entre a falta e o excesso.
  7. “Se não crerdes não entendereis” é a fórmula agostiniana que ficou famosíssima como mais um dos chavões usados para exemplificar e sintetizar o pensamento de um filósofo, e foi retirada do profeta Elias, 7, 9. “Entretanto a cabeça de Efraim será Samaria, e a cabeça de Samaria, o filho de Remalias, se o não crerdes, certamente não ficareis firme”.
  8. Deus em sua totalidade é insondável, e qualquer tentativa de abarcá-lo com palavras está fadada ao fracasso. Agostinho retira do Êxodo o que julga ser a melhor definição. Neste trecho Moisés pergunta ao Senhor o que deve dizer na Aldeia quando lhe perguntarem quem encontrou, e Deus assim se define “Eu sou o que Sou”, ou em outras traduções, “Eu sou aquele que é”.
  9. O orfismo foi o criador da metempsicose (transmigração das almas), e associado ao pitagorismo, deu origem a uma das mais veneráveis e secretas seitas de todos os tempos. Baseia-se sobretudo no mito de Orfeu e Eurídice. Este mito pode ser assim resumido: Orfeu era filho do deus Eagro e da musa da Poesia trágica Calíope (portanto neto da memória). Encantava a todos com o seus versos e sua lira. Se casou com a adorável nêiade Eurídice, mas o matrimônio durou pouco, pois esta, fugindo de um pastor, morreu ao ser picada por uma cobra venenosa. As súplicas da música dolorosa de Orfeu tocaram aos deuses, e lhe foi concedido resgatar sua amada no reino das sombras (o Hades), desde que durante a volta não olhasse para trás e visse Eurídice sequer uma vez. Tomado pelo amor e curiosidade, Orfeu dá uma olhadela, e ele vê sua esposa sofrer a segunda morte. Este mito é erroneamente tomado como a única ocasião em que foi concedido a um mortal penetrar no reino do Hades com vida e retornar, mas isto não é verdade, pois Odisseu (ou Ulisses), como é relatado no canto XI da Odisséia, graças à deusa Circe, consegue penetrar na mansão de Hades e de sua terrível esposa Perséfone. Lá vagueiam cegas as almas dos mortos, e Odisseu conversa com eles, inclusive com sua mãe.
  10. O problema do guia no Hades era fundamental, visto que ao morrer as almas ficam cegas, e transformam-se em sombras. Para tomar o caminho certo nos recônditos do Hades, ir aos Campos Elíseos, por exemplo, era preciso que o homem tivesse um bom guia, um bom daimon. Aliás, a origem da palavra felicidade em grego ( eudaimonia ) está naqueles escolhidos pelos deuses para ter um daimon .
  11. Poema inscrito na tábua de Petélia, citado por Bertrand Russel em História da Filosofia Ocidental vol.1 e por Junito de Souza Brandão em Mitologia Grega , vol. 1.
  12. No exemplo ele fala de “se uma coisa existe ( an sit )? qual sua natureza ( quid sit )? e qual sua qualidade ( quale sit )?”.
  13. capítulo XII do Livro X. Em outras palavras, a imagem do número fornecida pelos sentidos é diversa de seu significado.
  14. Em Platão, como é sabido, conhecer é se lembrar. A melhor ilustração da teoria da reminiscência de Platão está contida no Mênon , em que Sócrates, dialogando com um jovem e inculto escravo, o força a reconhecer um problema complexo de leis geômétricas em quadradados, apenas através de hipóteses e da lógica.
    BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL
  • Agostinho, Santo. Confissões . Tradução de J. Oliveira e A. Ambrósio de Pina. Livraria Apostolado da Imprensa, 5ª edição. Porto, Portugal, 1955 .
  • Agostinho, Santo. Confissões e De Magistro in Volume Santo Agostinho da Coleção Os Pensadores. Editora Abril Cultural. Vida e Obra de José Américo de Mota Pessanha. 
  • Agostinho, Santo. Do Livre Arbítrio . Tradução de Antônio Soares Pinheiro. Editora da Universidade de Braga, Faculdade de Filosofia.
  • Novaes, Moacyr. “Nota sobre o problema da Universalidade em Agostinho, do ponto de vista da relação entre fé e razão. in Cadernos História da Filosofia e Ciência. pg 31-54. vol. 7 nº2. Editora Unicamp. Campinas, 1997.

 Fonte:
CONSCIÊNCIA:.ORG
 
http://www.consciencia.org/confissoessanto_agostinho.shtml

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