Os célebres voos em Paris fizeram de Alberto Santos Dumont
uma personalidade conhecida em todo o mundo no início do século 20.
Hoje ele caiu no esquecimento. Para os brasileiros, porém, será sempre o
pai da aviação. Há 80 anos, no dia 23 de julho de 1932, morreu o
inventor brasileiro Alberto Santos Dumont.
Conhecido no Brasil como o "pai da aviação",
seu legado de invenções
fez dele
uma das grandes personalidades brasileiras do século 20.
Santos Dumont criou os primeiros balões dirigíveis, com quais realizou
as célebres voltas ao redor da Torre Eiffel. Foi também o primeiro a
decolar um protótipo de avião tripulado, impulsionado por um motor a
gasolina, sem ajuda do vento ou de rampas de lançamento.
Para além das contribuições aeronáuticas, atribui-se também a Santos Dumont algumas invenções do cotidiano, como a porta de correr em hangares, a adaptação do relógio de bolso para o pulso - que virou moda em Paris - e ainda o chuveiro para banhos quentes e frios, na sua casa em Petrópolis (RJ).
Mas Santos Dumont não estava preocupado em patentear as suas invenções. A coordenadora do Museu da Casa de Santos Dumont, Marisa Guadalupe Plum, disse à DW Brasil que ele considerava o conhecimento um bem comum da humanidade e esperava que seus projetos melhorassem a vida das pessoas.
Controvérsias
Apesar de sua contribuição para a aviação ser inquestionável, há controvérsias sobre o reconhecimento de Dumont como o inventor do avião. Ao contrário dos brasileiros, para a Federação Aeronáutica Internacional e a maior parte do mundo, o crédito do invento é atribuído aos norte-americanos Irmãos Wright.
"Sem dúvida Santos Dumont é um dos pioneiros da aeronáutica. Mas, para o avião, os Irmãos Wright são mais importantes", afirma o professor Holger Steinle, administrador da exposição permanente sobre aviação no Museu Técnico Alemão de Berlim.
Oficialmente, os Wright fizeram seu primeiro voo público com um avião tripulado em 1908, mas alegaram que a façanha havia sido feita em dezembro de 1903, nos Estados Unidos, praticamente três anos antes do 14-Bis.
A polêmica está baseada na falta de provas testemunhais ou documentos que comprovem a realização desse voo. Há relatos de cinco testemunhas locais que o teriam presenciado. Mas nenhuma delas com certificações ou conhecimentos aeronáuticos para confirmá-lo. Anos depois foi ainda apresentada uma fotografia, supostamente tirada na data do voo.
Santos Dumont foi o primeiro a realizar, de forma oficial, um voo perante uma comissão de especialistas, jornalistas e diversas outras testemunhas, sustenta Guadalupe. Ela afirma que o reconhecimento dos irmãos Wright é uma questão de marketing. "Isso é o poderio dos Estados Unidos, até pela força da própria indústria aeronáutica americana."
No início do século 20, as revoluções tecnológicas fervilhavam por diversos cantos do mundo, o que naturalmente torna difícil a atribuição de méritos diante de tantas pesquisas e protótipos desenvolvidos paralelamente.
O voo do planador motorizado dos Irmãos Wright, com decolagem realizada de uma colina, não caracteriza voo por meios próprios, como no caso do 14-Bis, argumenta ela. Mas Steinle defende que o planador dos Wright se mantinha um bom tempo no ar, era dirigível e manobrável, podendo retornar ao ponto de decolagem. "Esse é o critério geralmente reconhecido para se poder falar em voar", diz.
Do balão ao avião
Nascido em 20 de julho de 1873 na cidade de Palmira, em Minas Gerais -- hoje rebatizada em sua homenagem --, Santos Dumont sempre acreditou que o homem poderia voar. Aos 18 anos foi emancipado e recebeu uma fortuna familiar para que pudesse prosseguir seus estudos na França.
O brasileiro chegou a Paris em 1891 e pode vivenciar de perto as grandes revoluções tecnológicas e culturais, como o surgimento da lâmpada elétrica, o desenvolvimento da fotografia, do cinema e, claro, os primeiros carros com motores de combustão.
Foi no balonismo que Dumont iniciou seus trabalhos de aviação. Após alguns protótipos que deram errado, ele conseguiu resolver o grande problema da dirigibilidade dos balões. Em 1899, o dirigível N-3, em formato cilíndrico, que podia ser direcionado através de um motor adaptado, ergueu voo perante o público francês e contornou a Torre Eiffel, pousando em seguida em condições controladas.
Essa manobra fez com que Santos Dumont alcance o seu prestígio com o público francês e o deixou confiante para participar do Prêmio Deutsch. Criado por um milionário judeu, o prêmio prometia uma vultosa quantia em dinheiro para o aviador que criasse um dirigível eficiente, rápido e que realizasse um percurso determinado perante a comissão do Aeroclube da França.
Em outubro de 1901 Dumont executou a prova com o novo dirigível N-6, ganhando o prêmio em dinheiro e reconhecimento internacional.
Seguiram-se inúmeras publicações sobre o seu feito e convites de todo o mundo para homenagens internacionais e a continuidade dos seus projetos. A imagem do brasileiro voador ficou conhecida em toda Paris.
Era chegada a hora de tentar algo "mais pesado que o ar". Em 1906, Santos Dumont desenvolveu o famoso 14-Bis. O modelo tripulado resolvia o grande problema de levantar voo por meios próprios. A aeronave com um formato diferente possuía motor a gasolina, que conferia velocidade, e um design que aproveitava a aerodinâmica do ar.
Foi em 23 de outubro de 1906, cinco anos depois do vôo de dirigível ao redor da Torre Eiffel, que Dumont fez o 14-Bis voar a três metros de altura ao longo de 60 metros, sem o auxílio de rampas, catapultas ou do vento, apenas com a propulsão do motor. A façanha ocorreu perante uma comissão do Aeroclube da França, que concedeu a ele um prêmio em dinheiro.
Morte
Em 1931, Santos Dumont voltou ao Brasil num estado de saúde debilitado e muito depressivo. Ele passou alguns meses em viagens pelo país até se instalar num hotel em Guarujá, no litoral Paulista.
O inventor se resguardou de convívios sociais e já não aceitava homenagens, tendo recusado tomar posse da cadeira reservada a ele na Academia Brasileira de Letras.
Em julho de 1932, Santos Dumont pôs fim à própria vida no seu quarto de hotel, aos 59 anos. Por não ter deixado uma nota de suicídio, especula-se que Dumont teria visto aviões de combate sobrevoando Guarujá para o ataque ao Campo de Marte, em São Paulo, devido a Revolução Constitucionalista. Ver o seu invento como arma de guerra teria sido a causa do seu grande desgosto, diz essa tese.
Mas Guadalupe sustenta que o suicídio foi, na verdade, o resultado de um processo de desgaste físico e psicológico que se iniciou em 1910. Ela diz que, durante a Primeira Guerra Mundial, Santos Dumont queimou todos os seus projetos em Paris, e há documentos comprovando inúmeras internações por neurastenia, o enfraquecimento do sistema nervoso.
"Na Europa ele entrou nesse processo depressivo, que tentou superar, mas não conseguiu. No Brasil existia um clima tenso, estourando uma revolução. Ele não conseguiu controlar os seus conflitos internos e não suportou aquela tensão toda", diz Guadalupe.
Autor: Antônio Netto / Jan D. Walter
Revisão: Alexandre Schossler
Para além das contribuições aeronáuticas, atribui-se também a Santos Dumont algumas invenções do cotidiano, como a porta de correr em hangares, a adaptação do relógio de bolso para o pulso - que virou moda em Paris - e ainda o chuveiro para banhos quentes e frios, na sua casa em Petrópolis (RJ).
Mas Santos Dumont não estava preocupado em patentear as suas invenções. A coordenadora do Museu da Casa de Santos Dumont, Marisa Guadalupe Plum, disse à DW Brasil que ele considerava o conhecimento um bem comum da humanidade e esperava que seus projetos melhorassem a vida das pessoas.
Controvérsias
Apesar de sua contribuição para a aviação ser inquestionável, há controvérsias sobre o reconhecimento de Dumont como o inventor do avião. Ao contrário dos brasileiros, para a Federação Aeronáutica Internacional e a maior parte do mundo, o crédito do invento é atribuído aos norte-americanos Irmãos Wright.
"Sem dúvida Santos Dumont é um dos pioneiros da aeronáutica. Mas, para o avião, os Irmãos Wright são mais importantes", afirma o professor Holger Steinle, administrador da exposição permanente sobre aviação no Museu Técnico Alemão de Berlim.
Oficialmente, os Wright fizeram seu primeiro voo público com um avião tripulado em 1908, mas alegaram que a façanha havia sido feita em dezembro de 1903, nos Estados Unidos, praticamente três anos antes do 14-Bis.
A polêmica está baseada na falta de provas testemunhais ou documentos que comprovem a realização desse voo. Há relatos de cinco testemunhas locais que o teriam presenciado. Mas nenhuma delas com certificações ou conhecimentos aeronáuticos para confirmá-lo. Anos depois foi ainda apresentada uma fotografia, supostamente tirada na data do voo.
Santos Dumont foi o primeiro a realizar, de forma oficial, um voo perante uma comissão de especialistas, jornalistas e diversas outras testemunhas, sustenta Guadalupe. Ela afirma que o reconhecimento dos irmãos Wright é uma questão de marketing. "Isso é o poderio dos Estados Unidos, até pela força da própria indústria aeronáutica americana."
No início do século 20, as revoluções tecnológicas fervilhavam por diversos cantos do mundo, o que naturalmente torna difícil a atribuição de méritos diante de tantas pesquisas e protótipos desenvolvidos paralelamente.
O voo do planador motorizado dos Irmãos Wright, com decolagem realizada de uma colina, não caracteriza voo por meios próprios, como no caso do 14-Bis, argumenta ela. Mas Steinle defende que o planador dos Wright se mantinha um bom tempo no ar, era dirigível e manobrável, podendo retornar ao ponto de decolagem. "Esse é o critério geralmente reconhecido para se poder falar em voar", diz.
Do balão ao avião
Nascido em 20 de julho de 1873 na cidade de Palmira, em Minas Gerais -- hoje rebatizada em sua homenagem --, Santos Dumont sempre acreditou que o homem poderia voar. Aos 18 anos foi emancipado e recebeu uma fortuna familiar para que pudesse prosseguir seus estudos na França.
O brasileiro chegou a Paris em 1891 e pode vivenciar de perto as grandes revoluções tecnológicas e culturais, como o surgimento da lâmpada elétrica, o desenvolvimento da fotografia, do cinema e, claro, os primeiros carros com motores de combustão.
Foi no balonismo que Dumont iniciou seus trabalhos de aviação. Após alguns protótipos que deram errado, ele conseguiu resolver o grande problema da dirigibilidade dos balões. Em 1899, o dirigível N-3, em formato cilíndrico, que podia ser direcionado através de um motor adaptado, ergueu voo perante o público francês e contornou a Torre Eiffel, pousando em seguida em condições controladas.
Essa manobra fez com que Santos Dumont alcance o seu prestígio com o público francês e o deixou confiante para participar do Prêmio Deutsch. Criado por um milionário judeu, o prêmio prometia uma vultosa quantia em dinheiro para o aviador que criasse um dirigível eficiente, rápido e que realizasse um percurso determinado perante a comissão do Aeroclube da França.
Em outubro de 1901 Dumont executou a prova com o novo dirigível N-6, ganhando o prêmio em dinheiro e reconhecimento internacional.
Seguiram-se inúmeras publicações sobre o seu feito e convites de todo o mundo para homenagens internacionais e a continuidade dos seus projetos. A imagem do brasileiro voador ficou conhecida em toda Paris.
Era chegada a hora de tentar algo "mais pesado que o ar". Em 1906, Santos Dumont desenvolveu o famoso 14-Bis. O modelo tripulado resolvia o grande problema de levantar voo por meios próprios. A aeronave com um formato diferente possuía motor a gasolina, que conferia velocidade, e um design que aproveitava a aerodinâmica do ar.
Foi em 23 de outubro de 1906, cinco anos depois do vôo de dirigível ao redor da Torre Eiffel, que Dumont fez o 14-Bis voar a três metros de altura ao longo de 60 metros, sem o auxílio de rampas, catapultas ou do vento, apenas com a propulsão do motor. A façanha ocorreu perante uma comissão do Aeroclube da França, que concedeu a ele um prêmio em dinheiro.
Morte
Em 1931, Santos Dumont voltou ao Brasil num estado de saúde debilitado e muito depressivo. Ele passou alguns meses em viagens pelo país até se instalar num hotel em Guarujá, no litoral Paulista.
O inventor se resguardou de convívios sociais e já não aceitava homenagens, tendo recusado tomar posse da cadeira reservada a ele na Academia Brasileira de Letras.
Em julho de 1932, Santos Dumont pôs fim à própria vida no seu quarto de hotel, aos 59 anos. Por não ter deixado uma nota de suicídio, especula-se que Dumont teria visto aviões de combate sobrevoando Guarujá para o ataque ao Campo de Marte, em São Paulo, devido a Revolução Constitucionalista. Ver o seu invento como arma de guerra teria sido a causa do seu grande desgosto, diz essa tese.
Mas Guadalupe sustenta que o suicídio foi, na verdade, o resultado de um processo de desgaste físico e psicológico que se iniciou em 1910. Ela diz que, durante a Primeira Guerra Mundial, Santos Dumont queimou todos os seus projetos em Paris, e há documentos comprovando inúmeras internações por neurastenia, o enfraquecimento do sistema nervoso.
"Na Europa ele entrou nesse processo depressivo, que tentou superar, mas não conseguiu. No Brasil existia um clima tenso, estourando uma revolução. Ele não conseguiu controlar os seus conflitos internos e não suportou aquela tensão toda", diz Guadalupe.
Autor: Antônio Netto / Jan D. Walter
Revisão: Alexandre Schossler
Li-Sol-30
Fonte:
http://www.agrosoft.org.br/agropag/222336.htm
Sejam felizes todos os seres. Vivam em paz todos os seres.
Sejam abençoados todos os seres.
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