AULA: 01.02.1996
Lado A
[...]
(Pra não bater fundo, eu às vezes vou usar uma palavra de ajuda pra vocês; mas eu jogo a palavra de ajuda, depois eu retiro e coloco a palavra exata).
Século XVIII – a Filosofia estabelece a existência de dois tipos de enunciados de qualificação científica. Imediatamente, eu vou substituir a palavra ‘enunciado’ pela palavra JUÍZO .
Existem dois juízos de qualificação científica. Esses dois juízos vão ser chamados um, de JUÍZO ANALÍTICO; e outro , de JUÍZO SINTÉTICO.
Existem dois juízos de qualificação científica. Esses dois juízos vão ser chamados um, de JUÍZO ANALÍTICO; e outro , de JUÍZO SINTÉTICO.
- Em que se difere o juízo analítico do juízo sintético ? Ou melhor, em que se assemelham o juízo sintético e o juízo analítico ?
Eles têm a mesma estrutura. O juízo analítico é constituído de um sujeito , o verbo ser na terceira pessoa do singular, e um predicado : “O Homem é bonito”. Então, todo juízo – necessariamente – é constituído desta maneira: um sujeito , o verbo na terceira pessoa do singular e um predicado .
Quando você liga um verbo na terceira pessoa do singular a um sujeito - liga, por exemplo, ‘Alberto’ a ‘é’. O predicado, que vai se seguir a essas afirmações – ‘Alberto é’, ‘Guilherme é’, ‘A mesa é’, ‘O cachorro é’ – chama-se ANALÍTICO ou SINTÉTICO. Então, essa classificação – analítico e sintético - pertence aos predicados .
Quando você liga um verbo na terceira pessoa do singular a um sujeito - liga, por exemplo, ‘Alberto’ a ‘é’. O predicado, que vai se seguir a essas afirmações – ‘Alberto é’, ‘Guilherme é’, ‘A mesa é’, ‘O cachorro é’ – chama-se ANALÍTICO ou SINTÉTICO. Então, essa classificação – analítico e sintético - pertence aos predicados .
Um predicado é analítico - quando reproduz inteiramente o sujeito ,ainda que seja com outras palavras. O homem é um animal racional, por exemplo, é um juízo analítico - porque ‘homem’ e ‘animal racional’ querem dizer amesma coisa. Então, o juízo analítico é um juízo que ao ser produzido não descobre nenhuma verdade nova do sujeito. Ao produzir esse juízo, produz-se o que se chama JUÍZO DE RAZÃO – uma verdade de razão .
Esse juízo é uma VERDADE DE RAZÃO, porque a razão é suficiente a si própria para compreendê-lo. A razão não precisa fazer nenhuma experiência para afirmar que ‘uma mesa é absolutamente idêntica a uma mesa’. Então, o juízo analítico é quando o conceito predicado reproduz o conceito sujeito - ainda que seja com palavras diferentes.
Esse juízo é uma VERDADE DE RAZÃO, porque a razão é suficiente a si própria para compreendê-lo. A razão não precisa fazer nenhuma experiência para afirmar que ‘uma mesa é absolutamente idêntica a uma mesa’. Então, o juízo analítico é quando o conceito predicado reproduz o conceito sujeito - ainda que seja com palavras diferentes.
O exemplo mais clássico é ‘o homem é um animal racional’ . Classicamente, isso é um juízo analítico. O juízo analítico e o sintético estão relacionados ao predicado. Quando o predicado reproduz o sujeito – aquele juízo é analítico. Quando o predicado não reproduzo sujeito , não é igual ao sujeito, quando o predicado é diferente do sujeito – aquele juízo é sintético. Por exemplo, ‘Alberto está sentado’, ‘Alberto está em pé’, ‘A água ferve a 100 graus’, ‘O café está quente’ – são juízos sintéticos. O juízo sintético é quando o predicado não pertence ao sujeito – ele é acrescentado ao sujeito.
Por exemplo, você pega ‘a idéia’; não, ‘a água’ – você pega a ‘ idéia de água’ e pega a ‘ idéia de homem’. Por exemplo: na idéia de ‘homem’ está contido ‘animal racional’ – porque é a mesma coisa: homem é a mesma coisa que animal racional . Mas na idéia de ‘água’ não está contido ‘ferve a 100 graus’. Então, quando se faz um juízo sintético, faz-se esse juízo a partir da experiência. Esse é o juízo propriamente científico . Ou seja: você observa a experiência: você observaque alguém pega o copo d’água, coloca o copo d’água no fogo, e ela ferve a 100 graus. Quando ela ferve, você faz a afirmação: “a águafervea 100 graus” – isso é um JUÍZO SINTÉTICO.
Então, o que marca a diferença do juízo sintético para o juízo analítico é que no juízo analítico o predicado é igual ao sujeito; no juízo sintético o predicado é diferente do sujeito.
O juízo analítico é chamado de VERDADE DE RAZÃO. O que é uma verdade de razão ? Uma verdade de razão se assemelha à matemática, que trabalha com equações . Coloquem da seguinte maneira: 2 + 2 = 4. O sujeito é ‘ 2 + 2′ ; ‘ 4 ‘ é o predicado. O sujeito e o predicado são absolutamente iguais (Vocês entenderam?). Então, isso se chama verdade de razão .
VERDADE DE FATO é sinônimo de JUÍZO SINTÉTICO. Ou seja, o juízo sintético e a verdade de fato são a mesma coisa. O juízo sintético é quando você experimenta – porque o predicado não esta contido no sujeito.
Muito bem, então a filosofia estabelece a existência desses dois juízos: um juízo sintético e um juízo analítico . Em função da existência desses dois juízos, – o analítico e o sintético – vão aparecer duas tendências na Filosofia: uma tendência chamada racionalismo - que trabalha com o juízo analítico. E uma tendência chamada empirismo - que trabalha com o juízo sintético.
Eu vou fazer uma deriva. E essa deriva se sustenta. Essa mudança não vai ser como a exposição do juízo analítico e do juízo sintético, porque quando eu fiz aquela exposição vocês eram como crianças na minha mão - dependentes de mim! A exposição que eu vou fazer agora não é a mesma coisa; porque agora - dentro do pensamento de vocês - vocês vão poder verificar se o que eu estou falando é [ou não] absolutamente correto.
O que estou dizendo é o seguinte - quando a gente faz uma exposição teórica, há determinados momentos em que o estudante, que a ouve, não sabe bem o que está acontecendo ali, e a única coisa que ele pode fazer é aceitar - cegamente - o que o professor está falando (como se deu nesse primeiro quadro da minha exposição). Agora, no segundo quadro, que eu vou fazer tudo depende de vocês compreenderem: se vocês não compreenderem, aquilo não passa!
Quer dizer: a primeira fase - juízo analítico e sintético - foi um processo informativo. Agora, já é um processo de pensamento . Vou começar a falar: é uma coisa difícil , mas ao mesmo tempo só compreendida - se vocês não compreenderem, não poderão aceitar.
A REALIDADE, em Filosofia, chama-se MUNDO DA EXPERIÊNCIA.
Então, nós estamos mergulhados no mundo da experiência - e tudo o que acontece nele, tudo o que acontece no mundo da experiência, é CONTINGENTE.
Então, nós estamos mergulhados no mundo da experiência - e tudo o que acontece nele, tudo o que acontece no mundo da experiência, é CONTINGENTE.
- O que quer dizer contingente? É aquilo que pode acontecer; ou pode não acontecer. Então, no mundo da experiência tudo é contingente. Sendo contingente, aquilo aconteceu - mas poderia não ter acontecido . Por exemplo: “Eu estou tomando café”. (Isto é? Contingente!) Agora apliquem da seguinte maneira: o mundo da experiência é governado pela contingência. (Isso é de uma importância, inclusive existencial, enorme! A gente saber que o mundo da experiência é governado pela contingência).
- O que quer dizer contingência? Que alguma coisa que aconteceu , poderia não ter acontecido. Vamos usar uma linguagem até apropriada para compreender: o mesmo peso pra acontecer; o mesmo peso pra não acontecer. É isso que se chama contingência .
Então, nós estamos mergulhados na contingência.. . e estar mergulhado na contingência é não poder-se prever o que vai acontecer daqui a cinco segundos. Contingência, então, quer dizer o quê? Quebra da possibilidade de previsão, porque nada está regido por um princípio de necessidade - aquilo pode acontecer ou não acontecer.
Então, a contingência é aquilo que ocorre no mundo da experiência ou no REAL. (O enunciado, agora, é um pouquinho mais complexo - mas fundamental! ) Além de tudo no mundo da experiência ser contingente, tudo no mundo da experiência é SINGULAR.
O que quer dizer singular? Singular quer dizer: é único e irrepetível . Por exemplo: ‘Eu vou beber este café’. Esse acontecimento foi contingente - e singular; quer dizer - único e irrepetível; ou seja; nunca mais isso vai acontecer. Nunca mais - pela eternidade do tempo - [esse acontecimento], eu tomando café dessa maneira com vocês,acontecerá outra vez. Jamais acontecerá outra vez!
Quando o Guilherme, por exemplo, está lá tocando a bateria dele: ele dá uma batida de uma maneira… jamais aquilo acontecerá outra vez da mesma maneira . Todos os acontecimentos dentro da natureza são singulares . Por isso é que nós - os homens - não nos cansamos dos beijos das mulheres. Porque são sempre…
Al.: Diferentes!
Cl: Singulares, diferentes - a singularidade de todas as coisas que acontecem na realidade! Então, de que é constituída a realidade? De contingências e singularidades .
Eu, agora, vou aplicar outro nome como sinônimo de experiência, de mundo da experiência, de realidade - eu vou passar a chamar também de a posteriori . A posteriori como sinônimo de real e mundo da experiência. Então, tudo aquilo que for a posteriori é… singular e contingente .
Então, antes de abandonar isso daqui… eu vou fazer uma experiência com vocês. Se por acaso eu acender um fósforo, e encostá-lo no meu dedo, esse acontecimento é… singular e o que mais? Singular e contingente . Então, eu acendi um fósforo e encostei no meu dedo. Depois , apaguei o fósforo. Agora, acendo outro fósforo e encosto-o no meu dedo. Esse outro fósforo, que eu encostei no meu dedo, é igual ao primeiro? Não. Cada um é singular e contingente . Então, a singularidade e a contingência são do mundo da experiência, da realidade - e do a posteriori .
Agora, vai aparecer na Filosofia uma figura que começa por trazer uma dificuldade imensa , pois não pertence ao mundo da experiência. O mundo da experiência, eu creio que já esgotei! O que é o mundo da experiência? Contingência e… singularidade. Então…
( mundo da experiência = a posteriori : contingente e singular )
Agora eu vou falar do a priori . Se vocês quiserem sofisticar, tambémpodem usar propter quid - à maneira medieval – que é a mesma coisa. O a priori não pertence à experiência. Então, fica difícil, porque imediatamente alguém pode dizer: “Mas Claudio pode existir alguma coisa fora da experiência?”. Eu estou dizendo que pode: o a priori é fora da experiência.
Ninguém tente compreender o que é o a priori ; aceitem o que estou dizendo: o a priori está fora da experiência. Estando fora da experiência, no a priori não há contingência; há necessidade : tudo no a priori é necessário. Então, o a priori … é necessário; e o a posteriori … é contingente. O a posteriori é… singular; e o a priori … universal. O a priori é universal e necessário ; e o a posteriori … contingente e singular.
Ninguém tente compreender o que é o a priori ; aceitem o que estou dizendo: o a priori está fora da experiência. Estando fora da experiência, no a priori não há contingência; há necessidade : tudo no a priori é necessário. Então, o a priori … é necessário; e o a posteriori … é contingente. O a posteriori é… singular; e o a priori … universal. O a priori é universal e necessário ; e o a posteriori … contingente e singular.
Então, se nós estamos no mundo da experiência, nós encontramos… a contingência e a singularidade . Ainda que pareça um delírio – o a priori é o [campo] do necessário e do universal .
Então, nós agora vamos fazer uma definição. O a priori tem duas características: universal e necessário. O a posteriori tem duas características: contingente e singular. Então são as características do a priori e do a posteriori . A posteriori , sinônimo de campo da experiência ou realidade.
No século XVIII, um filósofo chamado Kant afirmou que a natureza - que é sinônimo de mundo da experiência – é constituída por dois pequeninos campos: um se chama física; o outro se chama psicologia . (Aí é muito fácil de entender:) O mundo é constituído de física e psicologia; (é a coisa mais fácil que existe!). Este copo, por exemplo, é físico; e o que eu estou falando ? É psicológico! Então, para Kant , o mundo é constituído de psicológico e físico . Mas o psicológico e o físico pertencem à experiência , pertencem à realidade , pertencem ao a posteriori . Logo, o psicológico e o físico são contingentes e singulares .
Até aí, o que Kant disse, não tem nada demais! Qualquer um tem a maior facilidade em concordar com o que estou dizendo: tudo que acontece com a nossa psicologia é… singular ; tudo que acontece no mundo físico é… contingente e singular . Por exemplo: ‘eu estou impressionado com a beleza da Natasha Kinski’. Isto é? Contingente e singular.
Se dentro de cinco minutos a Natasha Kinski aparecer, eu posso não estar mais impressionado com ela? Tranqüilamente , nada demais aconteceu – porque tudo na psicologia e no mundo físico é contingente e singular.
(Eu vou começar a introduzir novos conceitos, ouviu?).
Da mesma maneira que eu estou dizendo pra vocês – o Kant estabelece que o mundo da experiência é singular e contingente; o real , que é constituído de dois elementos – o psicológico e o físico – é contingente e singular. Agora, ao invés de chamar de a posteriori , realidade ou mundo da experiência - eu vou chamar de FORMA EMPÍRICA.
- O que constitui a forma empírica? A psicologia e a física; ambas , contingentes e singulares. Então, a partir daí, será que eu posso saber quando um homem vai matar uma mulher? Não, não posso! Por que não posso? Porque é… contingente e singular!
O que implica em dizer que, mergulhando na contingência e na singularidade, desaparece a potência de previsão – desaparece a previsibilidade . O desaparecimento da previsibilidade é sinônimo do desaparecimento da ciência . A CIÊNCIA se constitui pelo processo da PREVISÃO. Então, se você tem um mundo constituído pela psicologia e pela física – a única coisa que interessa conhecer é a psicologia e a física, mais nada! E a psicologia e a física são contingentes e singulares, você não pode mais fazer previsões – a previsibilidade desaparece: acaba a ciência !
A questão do Kant, no século XVIII, é fazer com que a ciência retorne . Então ele vai constituir um campo chamado TRANSCENDENTAL. Quer dizer: o lado de cá é o empírico – que tem a psicologia e a física, contingência e singularidade. No transcendental está o a priori . E o a priori - é necessário e universal. Mas aqui cria um problema gravíssimo, porque o mundo é constituído de psicologia e física . Onde eu vou colocar esse transcendental? Em que lugar eu vou colocar esse transcendental? No céu? Um filósofo chamado Platão , na Grécia do século V a.C., colocou o transcendental no céu.
O mundo das idéias platônicas é um transcendental – mas isso não é mais possível! Esse mundo platônico foi destruído - foi completamente destruído! Então, Kant coloca esse transcendental no mesmo lugar da psicologia. Ele diz que o transcendental… (ele não vai dizer exatamente assim; eu vou mudar um pouco a linguagem aqui.) Ao invés de falar psicologia e física… (mas isso é definitivo, é psicologia e física também) vocês podem chamar psicologia e física de subjetivo e objetivo - é absolutamente a mesma coisa! Então, psicologia é sinônimo de subjetivo; e física é sinônimo de objetivo .
O subjetivo e o objetivo pertencem à forma empírica . Na ‘forma empírica’ reina o singular e a contingência (Tá certo?). Kant agora vai dizer que o transcendental…
O mundo das idéias platônicas é um transcendental – mas isso não é mais possível! Esse mundo platônico foi destruído - foi completamente destruído! Então, Kant coloca esse transcendental no mesmo lugar da psicologia. Ele diz que o transcendental… (ele não vai dizer exatamente assim; eu vou mudar um pouco a linguagem aqui.) Ao invés de falar psicologia e física… (mas isso é definitivo, é psicologia e física também) vocês podem chamar psicologia e física de subjetivo e objetivo - é absolutamente a mesma coisa! Então, psicologia é sinônimo de subjetivo; e física é sinônimo de objetivo .
O subjetivo e o objetivo pertencem à forma empírica . Na ‘forma empírica’ reina o singular e a contingência (Tá certo?). Kant agora vai dizer que o transcendental…
- O transcendental só tem dois lugares para ocupar: Quais?
Alº.: subjetivo ou objetivo.
Kant vai dizer que o transcendental é subjetivo. A partir disso, o psicológico não vai ser mais sinônimo de subjetivo. Por quê? Porque o subjetivo tem dois campos: o transcendental e o psicológico .
- Quais são os outros campos? Psicológico e físico . Subjetivo sinônimo de psicológico . Objetivo sinônimo de físico . Mas o Kant vai colocar o transcendental do lado do subjetivo . Na hora em que ele coloca o transcendental no subjetivo, o subjetivo [deixa de ser] sinônimo de psicológico – porque o subjetivo agora contém o transcendental e o psicológico .
- Então , o subjetivo tem quantos componentes? Dois - o transcendental e o psicológico . No subjetivo, então, aparecem dois reinos – o reino do a priori - que é o transcendental; e o reino do a posteriori - que é o reino do psicológico.
O a priori pertence ao transcendental – e é necessário e universal . E o psicológico é contingente e singular .
A partir de Kant nasce uma nova figura na história do pensamento: o TRANSCENDENTAL.
(Dois pontos, perguntas… porque eu não preciso dizer mais nada aqui!)
Com Kant, está nascendo o TRANSCENDENTAL. Antes de Kant – o que existia? O subjetivo e o objetivo ; e o subjetivo era sinônimo de psicológico.
- Por que, depois de Kant, o psicológico deixou de ser sinônimo de subjetivo? Porque o subjetivo incluiu o transcendental.
Então, o transcendental ( e isso é fundamental!) nasce com Kant ; não precisa mais de nenhuma aula, vocês já sabem qual a diferença, o que – de novo – Kant introduziu! É preciso compreender, no entanto, por que, ao introduzir o transcendental, Kant não o colocou no objetivo. Ou seja: o transcendental não é uma figura do objetivo - o transcendental é uma figura do subjetivo . A diferença dessa posição para a posição do Platão é que o transcendental do Platão não é nem subjetivo nem objetivo – é o mundo das idéias .
O transcendental de Kant é subjetivo , mas não é psicológico.
A subjetividade, então, passa a ser ocupada por dois domínios – o domínio do psicológico e o domínio do transcendental . A diferença do transcendental para o psicológico e para o físico é que o transcendental contém dentro dele o a priori .
A subjetividade, então, passa a ser ocupada por dois domínios – o domínio do psicológico e o domínio do transcendental . A diferença do transcendental para o psicológico e para o físico é que o transcendental contém dentro dele o a priori .
O a priori é necessário e universal; e o psicológico, contingente e singular, assim como o físico.
A partir de Kant … nós conhecemos esse acontecimento extraordinário na história do pensamento – que foi a introdução do transcendental . Porque a grande questão de Kant é que ele estava diante do psicológico e do físico. E o psicológico e o físico – sendo ambos contingentes e singulares – a CIÊNCIA não poderia se constituir.
- O que quer dizer isso? O que quer dizer – ‘a ciência não poderia se constituir’? Porque qualquer acontecimento que se der em um mundo onde só há o psicológico e o físico ; em um mundo onde só há contingência e singularidade - aquele acontecimento não [pode ser tomado como] índice para alguma coisa que venha depois. Porque, se eu boto meu dedo no fogo e meu dedo queima, por exemplo, isso não significa que em outro momento, se eu botar meu dedo no fogo, ele vá-se queimar outra vez. Por quê? [Porque a experiência é da ordem da] contingência e da singularidade. É esse o mundo com que Kant se depara. E o Kant quer salvar a ciência !Ele, então, constrói a idéia de transcendental – e essa construção veio pra ficar: a presença do transcendental é uma arquitetônica definitiva .
À diferença do empírico, que é contingente e singular, o que está no transcendental é necessário e universal .
Então, vamos começar agora a compreender essa questão: a melhor maneira que nós temos pra vocês compreenderem – e até se vocês quiserem fazer alguma pergunta seria excelente – é que o transcendental é onde o a priori está contido;e o a priori tem duas características: o necessário e universal.
Numa definição: o a priori não deriva da experiência.
Numa definição: o a priori não deriva da experiência.
- O que quer dizer ‘o a priori não deriva da experiência’? Quer dizer que você pode fazer 150 milhões de experiências com o fogo queimando um dedo, que você não pode, a partir disso, chegar ao a priori . O a priori independe da experiência !
Eu pego um fósforo, acendo, boto meu dedo no fogo e o dedo queima. Imediatamente, eu produzo um enunciado. Esse enunciado, que eu produzo, necessariamente tem que ser contingente e singular . Então, como é que eu produzo o enunciado? ‘Este fósforo queimou este dedo’, ou, pra ser mais preciso, ‘este fósforo queimou este dedo, aqui, às sete horas da noite, no Rio de Janeiro’? Pronto: esse enunciado é singular e contingente!
(Agora vem uma dificuldade muito grande:)
O enunciado transcendental , o enunciado do a priori é aquilo que ULTRAPASSA a EXPERIÊNCIA. Por exemplo, se um cientista disser: ‘Este fósforo queimou este dedo no Rio de Janeiro às sete horas de 1995′ – é um enunciado singular e contingente. O cientista não quer esse enunciado; o enunciado que o cientista vai fazer é o seguinte: ‘ Sempre que. ..’ (Olhem a palavra que é colocada:) ‘SEMPRE que o fósforo aceso se encontra com o dedo, o dedo queima’.
- O que é que o cientista introduziu de novo aí? Ele introduziu a palavra SEMPRE. A palavra sempre não deriva da experiência. Atenção, pra vocês entenderem – porque isso é muito difícil. Que é o seguinte: há palavras – como a palavra ’sempre’, a palavra ‘amanhã’, a palavra ‘todo’, ou a palavra ‘necessariamente’ que em qualquer momento que você acrescentar a um enunciado, por exemplo: ‘As estrelas [sempre] são de fogo’. Sempre que você acrescentar a um enunciado a palavra ’sempre’ ou a palavra ‘necessariamente’, etc., esse enunciado não pertence mais à experiência. Por quê? Porque ’sempre’ está para lá da experiência. Você não pode experimentar o que vem depois. Sempre que você acrescentar a um enunciado a palavra ‘todo’, a palavra ’sempre’, a palavra ‘necessariamente’ – isso já não pertence mais à experiência. Essas palavras são a priori e transcendentais .
Quando você aplica a palavra ‘todo’, a palavra ‘necessariamente’, a palavra ’sempre’ a um determinado acontecimento do mundo, isso significa que você ultrapassou a experiência.
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- Então, o que tem que ser feito para você constituir o campo científico? A produção de enunciados que ultrapassem a experiência. Esses enunciados que ultrapassam a experiência são aqueles que têm as partículas todo , sempre , necessariamente - e essas partículas são a priori .
- Por que são a priori ? Porque estão fora da experiência. Elas não se originam na experiência. Você não obtém essas palavras na experiência – porque você não pode experimentar eternamente se os fósforos vão queimar os dedos daqui a cinco anos. Você não pode experimentar isso! Então, quando um cientista produz um enunciado, ele produz um enunciado… (Agora, vamos tentar fazer a ligação:) Ele produz um enunciado, servindo-se dos a priori . Ele se serve dos a priori - ele tem que aplicar o necessário e o universal no contingente e singular .
Através dessa idéia de transcendental , então, Kant está tentando salvar a ciência e dizer que a ciência pode ser constituída – porque o transcendental pode ser jogado no empírico . Segundo Kant, se o transcendental puder ser jogado no empírico – a ciência está salva.
Eu vou terminar essa fase e vou passar pra outra. Vamos para a terceira questão.
- O que é a experiência? A experiência é uma informação que o mundo envia para os meus sentidos . Por exemplo: pertence a minha experiência saber se o copo está quente . Eu sinto que ele está quente! Eu vejo, por exemplo, duas bolas de bilhar: uma é verde, a outra é vermelha… Elas enviam pra mim a cor verde e a cor vermelha! Então, a experiência é aquilo que você apreende pelos seus sentidos . Aquilo que você apreender pelos seus sentidos – chama-se experiência .
Por exemplo, eu chego numa mesa de bilhar, e encontro um homem jogando. (Todo mundo sabe o que é bilhar , não é?) Ele está com a bola; pega o taco e vai tacar a bola, pra bola bater na outra e acontecer qualquer coisa. Quando ele faz isso, eu o vejo fazer, como também eu posso usar até um processo microscópio, e ver que o taco vai tocar na bola. Quando o taco toca na bola, eu vejo que a bola sai. Então, a minha experiência na sinuca – a experiência de qualquer um na sinuca – é muito fácil: a gente vê um taco, o taco bate na bola, a bola se movimenta, bate na outra bola, e a outra bola se movimenta. A partir daí, todos nós dizemos a mesma coisa: que o movimento da primeira bola foi devido ao taco.
Quando nós dizemos que o movimento da primeira bola foi devido ao taco, nós estamos dizendo que o taco é a causa do movimento da primeira bola. Quando a primeira bola bate na segunda bola, nós dizemos que a primeira bola é a causa do movimento da segunda bola (Certo?). Então, qual o nome que nós aplicamos ao ver um taco bater numa bola e uma bola bater na outra? Nós aplicamos o nome CAUSA.
Quando nós dizemos que o movimento da primeira bola foi devido ao taco, nós estamos dizendo que o taco é a causa do movimento da primeira bola. Quando a primeira bola bate na segunda bola, nós dizemos que a primeira bola é a causa do movimento da segunda bola (Certo?). Então, qual o nome que nós aplicamos ao ver um taco bater numa bola e uma bola bater na outra? Nós aplicamos o nome CAUSA.
- O que nós vimos?
Nós vimos um taco, vimos uma bola, depois vimos a bola se movimentando, a bola bater na outra bola, a outra bola começar a se movimentar. Então, o que nós vimos realmente ? Nós vimos um taco, um homem, duas bolas, uma mesa verde. Aí nós dizemos que o taco foi a CAUSA do movimento da primeira bola, e a primeira bola foi a CAUSA do movimento da segunda bola. Mas isso é falho! Porque não existe – nem no taco nem nas duas bolas – nenhuma informação de que o taco foi a causa do movimento da primeira bola. Nem nenhuma informação de que a primeira bola foi a causa do movimento da segunda. O que nós vemos é uma bola vermelha se movimentando, depois uma bola amarela se movimentando. Ou vemos um taco se movimentando. Ou seja, nós não apreendemos a idéia de causa na experiência – essa idéia não vem da experiência.
Essa questão está sendo colocada pelo Hume . Ao longo dos séculos, nós achávamos que nós éramos capazes de observar - dentro da natureza – a idéia de causa.
O Hume diz: “A idéia de causa não é observável, nós não observamos a causa”. Então, se nós não observamos a causa… é aí que Kant entra com o a priori . Se nós não observamos a causa – mas parece que há alguma coisa fazendo essas bolas se movimentarem – essa coisa que faz as bolas se movimentarem é um mistério total para nós: nós não podemos explicar por que essas bolas se movimentam, p orque a experiência não nos dá nenhuma informação! O que nós vemos é uma bola se movimentando; supostamente ela bate na outra, e a outra começa a se movimentar.
O Hume diz: “A idéia de causa não é observável, nós não observamos a causa”. Então, se nós não observamos a causa… é aí que Kant entra com o a priori . Se nós não observamos a causa – mas parece que há alguma coisa fazendo essas bolas se movimentarem – essa coisa que faz as bolas se movimentarem é um mistério total para nós: nós não podemos explicar por que essas bolas se movimentam, p orque a experiência não nos dá nenhuma informação! O que nós vemos é uma bola se movimentando; supostamente ela bate na outra, e a outra começa a se movimentar.
Mas – o que faz uma bola movimentar a outra? Pode ser Deus, podem ser espíritos.
O que é realmente que faz com que as bolas se movimentem? Nós aplicamos a noção de causa . Então, Hume diz que a causa não vem da experiência, a causa é subjetiva. Nós lançamos a idéia de causa sobre a realidade. Nós projetamos essa idéia de causa sobre a realidade. E por isso, através dessa projeção da idéia de causa, o Kant vai pegar… (Eu não sei se vocês compreenderam bem o processo das bolas de bilhar… vocês compreenderam bem isso? Esse processo é muito claro!)
Eu pego uma bola de bilhar, ou melhor, eu pego duas bolas – uma branca e uma vermelha. A bola vermelha começa a se movimentar. Você é capaz de observar essa bola vermelha? Sim, pelos olhos: o vermelho toca os seus olhos. Ao se movimentar, ela faz um pequeno barulho? Faz, você ouve o ruído quando a bola se movimenta. Você a vê fazendo o movimento? Vê; seus olhos vêem o movimento dela. Mas a natureza – que envia pra você a impressão de vermelho; que envia pra você a impressão deruído ; ela não envia pra você a impressão de causa .
Se por acaso algum de vocês achar que a natureza envia a impressão de causa, me diga como ela é… porque a impressão de vermelho eu digo como é; a impressão de movimento eu digo como é; a impressão de peso eu digo como é. E a impressão de causa? Como é a impressão de causa, e qual dos nossos sentidos apreende essa impressão?
Hume diz, então, que a impressão de causa não é física; é subjetiva – que a impressão de causa pertence à subjetividade; não ao mundo. E que somos nós que a colocamos.
Quando duas coisas se chocam, uma sai pra lá e a outra pra cá, nós dizemos: ‘ A foi a causa de B ‘. Mas a noção de causa não é física – é subjetiva! Porque você não pode, você não possui nenhum sentido para apreender essa noção de causa na natureza. Nada na natureza nos indica que ali há uma causalidade. Nada! Por exemplo, o G– tem certeza que quando ele bate com as varetas [baquetas] no tambor, aquilo lá faz um barulho. Então ele fica com a impressão que ele , G–, [ao bater com as baquetas no tambor,] foi a causa daquele barulho. É uma ilusão!
A natureza não nos envia a idéia de causa. Nós não temos essa idéia por impressão. Essa idéia, quando nós… Atenção!
(final de fita)
Lado B
Se a idéia de causa não é originária da natureza… – Entenderam aqui, a idéia de causa não vem da natureza? – se ela não vem da natureza, de onde vem?
Alº.: É a priori .
Cl.: É a priori! É isso que o Kant está dizendo. Então, nós vamos ter uma série de idéias que não são colhidas na experiência. Não sendo colhidas na experiência – elas são a priori. (Entenderam?). A noção de a priori em Kant… (Eu vou ter que cortar outra vez) a noção de a priori em Kant vai ser exposta, por ele, na Crítica da Razão Pura . Então, nós já sabemos que o mundo da experiência é contingente e singular. [...]
Não há mais como intervir na natureza! Por exemplo: um homem acabou de morrer de cólera; outro homem se curou de cólera tomando quinino. Eu posso – com alguma garantia teórica – aplicar o quinino no terceiro homem? Não, de maneira nenhuma; aquilo foi contingente e singular! A ciência desaba ; as previsibilidades desaparecem . E toda questão do homem no interior da natureza é a previsibilidade. A previsão é aquilo que traz segurança pro homem. No momento em que o homem perde a capacidade de previsão, ele mergulha no inferno! Então, no momento em que foi dito que a natureza é contingente e singular – a humanidade caiu no inferno! A única saída seria constituir alguma coisa que viesse a organizar esse singular e esse contingente: a saída de Kant foi – o transcendental (Está bem?). Então, no transcendental é que estariam os necessários e os contingentes.
(Agora eu vou explicar:)
- Quantos juízos eu disse que tinha? Dois . O analítico … (Vejam se eu posso chamar o analítico de a priori ? Posso. É um pouco forçado, mas posso.)…e o sintético . O sintético é o da experiência. (Tá certo?) Vamos ver esse enunciado aqui. (Vou fazer… Tem um lápis aí? Me empresta aqui. É azul? Aluno: Preto) Esta linha reta… Qual é a cor desta linha reta? Preta. Então, eu vou dizer aqui: esta linha reta é preta. Todas as linhas retas têm que ser pretas?
Alº.: Não.
Cl.: Ela não poderia ser azul? Não poderia ser vermelha? Então a cor da linha é? Contingente. E toda linha é singular . Mas aí o Kant diz: “esta linha reta é o caminho mais curto entre duas distâncias”. Quando ele diz “esta linha reta é o caminho mais curto entre duas distâncias” – isso é necessário e universal. Isso é necessário e universal ! Então, o que está acontecendo, é o nascimento de um terceiro juízo – que, inicialmente, eu vou chamar de sintético-analítico ; mas que, na verdade, se chama SINTÉTICO a priori .
- O que é o sintético a priori ? Você coloca um sujeito – o sujeito no caso aqui é linha reta (Tá pegando, G–?) – e você coloca um predicado – e esse predicado que você coloca é a priori . Então, qualquer linha reta pode ter qualquer cor, qualquer tamanho – e isso é contingente e singular. Mas é necessário e universal que esta linha reta seja o caminho mais curto entre dois pontos. Então, o universal e o necessário não pertencem ao empírico, mas à conjunção do empírico com o transcendental . (Estão acompanhando?). É a conjunção do empírico com o transcendental .
Então, a partir de agora… Bem, eu já passei pela parte mais difícil com vocês, foi a parte que eu tinha que falar em transcendental, em a priori , experiência, a posteriori , subjetivo, objetivo. E tudo isso ficava… profundamente difícil de ser falado! Mas agora eu já tenho uma arma, muito forte , porque vocês já têm um pequeno conhecimento do que eu estou falando. E agora eu vou voltar – e voltar dando aula.
O que eu fiz nessa primeira passagem aqui foi um sacrifício quase que insuportável! Geralmente eu passo isso em universidade, eu pego dez alunos, cada um separa um pedacinho e dá aquilo: um fala sobre o necessário, outro fala sobre o universal, outro fala sobre o contingente, outro fala sobre o singular. Agora eu vou aplicar com vocês, e vocês é que vão dirigir a aula (tá?).
Vamos lá:
- O subjetivo tem quantas metades?
Alº.: Duas.
Cl.: Duas - o psicológico e o transcendental. São as duas metades do subjetivo. (Tá?) E o físico? É constituído de um só elemento? O físico é constituído de um elemento só. (Tá?) Muito bem. O Kant disse que o subjetivo é transcendental e psicológico e vai fazer – pela primeira vez – a definição do que é transcendental. O transcendental é subjetivo, mas o subjetivo não esgota o transcendental todo, porque no transcendental existe o psicológico. E ele vai fazer a definição de transcendental – o transcendental é a CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE da experiência . Então, apareceram dois nomes muito difíceis - condição de possibilidade da experiência . Quem é que pertence à experiência?
Alº.: O singular e o físico.
Cl.: Vamos dizer o psicológico e o físico . O singular e o contingente - isso pertence à experiência. Eu posso dizer que o subjetivo pertence à experiência? Não, porque metade do subjetivo não é da experiência. Metade do subjetivo é transcendental . Então, o que é o transcendental? A condição de possibilidade da experiência.
Então, Kant vai dizer – e ai ele diz com uma clareza muito grande – da seguinte forma: este gravador, estes três gravadores que estão aqui: este gravador está à esquerda deste ? Este daqui está à direita deste ? Este daqui está acima deste ? Este está abaixo deste ? Este está na frente deste? Atrás, na frente, à esquerda, à direita, no alto, em baixo… – são RELAÇÕES ESPACIAIS. Então, alto, baixo, frente, costas, direita, esquerda são relações espaciais . O que significa que todas as coisas que existem estão no espaço; e o espaço não é algo inerte – o espaço tem relações próprias dele: existem relações no espaço.
Por exemplo, tirando-se o espaço destas coisas – o que aconteceria com elas? Isto daqui estaria à esquerda disto daqui? Isto daqui estaria acima disto daqui? Se vocês tirassem as relações espaciais, as coisas cairiam num caos im - pen - sá - vel ! Então, Kant vai dizer – com uma facilidade incrível - que o espaço é a condição de possibilidade do mundo físico . (Vejam se vocês entenderam:) O espaço é a condição de possibilidade do mundo físico . Se o espaço fosse retirado – acabaria o mundo físico: eu não estaria mais na frente do A–, este teto não estaria em cima do A –. Acabaria a arquitetura; acabaria a escultura; a pintura acabaria; a vida acabaria: tudo acabaria! Então o espaço é a condição de possibilidade do mundo físico.
Por exemplo, houve uma época na sua vida, L–, que você não conhecia a C– – ou você a conheceu sempre? Houve uma época em que você a conheceu. Então, houve uma época em que você não a conhecia, e uma época em que você a conheceu. Então, nessa época que você não conhecia C–, você não sentia amor por C–, porque você não conhecia C–. Então, a sua psicologia fez uma avaliação antes de conhecer C– (mulher dele),e depois de conhecer C– – não houve uma variação? Não houve uma mudança? Ou não?
Por exemplo, um homem sente uma dor de dente, aí toma um ‘Melhoral’, a dor de dente dele passa. Eu posso dizer que esse homem viveu um antes da dor de dente; a dor de dente presente; e o depois da dor de dente? Posso? Isso se chama VIVIDO. São três vividos: o vivido antes da dor de dente; o vivido da dor de dente; o vivido de depois da dor de dente. Para haver essa sucessão de vividos - é preciso que haja TEMPO. Se não houvesse tempo, nós só poderíamos ter um vivido. Como existe o tempo, nós temos uma série de vividos. Então, o tempo é a condição de possibilidade da psicologia .
O tempo é a condição de possibilidade da psicologia : se nós não tivéssemos tempo, nós não teríamos sucessão dos vividos.
Al.: Cláudio, quer dizer que o espaço é a condição de possibilidade do físico, e o tempo a condição de possibilidade da psicologia?
Cl.: condição de possibilidade da psicologia.
Al.: O físico não seria [a condição de possibilidade] do tempo?
Cl.: Não, depois você vai ver que o tempo vai englobar tudo. Ele vai pegar [---] o físico… por enquanto é só para vocês compreenderem que não pode haver físico sem espaço, e não pode haver psicologia sem o tempo. Então, o espaço e o tempo são os dois primeiros a priori . Eles não são da experiência. Eles são a condição de possibilidade da experiência. Então, o espaço e o tempo são a priori.
O espaço e o tempo são a condição de possibilidade da experiência. O espaço e o tempo… O tempo condição de possibilidade da psicologia e o espaço condição de possibilidade da física. Depois eu vou transformar.
Então, vejam bem: o espaço e o tempo não são índices da experiência; eles são a condição da experiência. Sem eles, não há experiência! Então, diz o Kant que o espaço e o tempo são dois transcendentais.
Então, esses dois transcendentais são subjetivos : eles são da subjetividade. O Kant vai e escreve o primeiro capítulo da Crítica da Razão Pura . O primeiro capítulo da Crítica da Razão Pura lida com o que se chama SENSIBILIDADE (Aqui é muito importante que vocês entendam, viu?) Sensibilidade é sinônimo de INTUIÇÃO.
Por exemplo, eu vejo este copo – é um processo da sensibilidade; eu ouço uma música – é um processo da sensibilidade; eu toco no liso desta mesa – é um processo da sensibilidade.
Sensibilidade é sinônimo de intuição . Então, eu apreendo este copo por? Intuição . Apreendo uma música por? Intuição . Apreendo esta mesa aqui, o liso por? Intuição . Sensibilidade é sinônimo de intuição . Aí, o Kant faz uma coisa lindíssima: ele divide a intuição em DERIVADA e ORIGINÁRIA.
A intuição derivada é a intuição humana - no sentido de que a intuição humana não cria nada ! A nossa sensibilidade não cria: os nossos olhos não criam, os nossos ouvidos não criam. Os meus olhos veem o que existe. O meu ouvido ouve o ruído que existe. A função da minha sensibilidade, ou a função da minha intuição é – apreender o que existe (Vocês entenderam?). A sensibilidade e a intuição - apreendem o que existe. Chama-se intuição derivada .
Mas Deus, diz Kant, tem uma intuição ORIGINÁRIA: quando Deus vê, Ele cria o objeto: quando ouve, cria a música – não ouve a música que está pronta.
O ato de ouvir em Deus – é o ato de CRIAR uma música;
o ato de ver é o ato de criar o objeto. Então, a intuição DIVINA é uma intuição ORIGINÁRIA. A intuição do HOMEM é uma intuição DERIVADA.
Nós, os homens, passamos a nossa vida com processos intuitivos . Com os olhos, eu apreendo cópias, mesas; com os ouvidos,eu apreendo música, ruídos; com a minha potência de temperatura, eu apreendo o calor ; com o tato, eu apreendo o rugoso e o liso . O que mais? Tem mais algum? Olfato, paladar…
Então, nós vivemos mergulhados na sensibilidade . Essa sensibilidade – os olhos apreendem a visão, o ouvido apreende a audição – se chama SENSIBILIDADE EMPÍRICA. Sensibilidade empírica. Agora, o espaço e o tempo não são a condição de possibilidade do físico e do psicológico?
O espaço e o tempo não são empíricos – são transcendentais .
Então, eu tenho duas sensibilidades. Quais? O espaço e o tempo são a SENSIBILIDADE TRANSCENDENTAL. E as coisas que eu apreendo pelos meus cinco sentidos são a SENSIBILIDADE EMPÍRICA. A palavra sensibilidade, em grego, chama-se ESTÉTICA. Estética é sinônimo de sensibilidade . Por isso, o primeiro capítulo da Crítica da Razão Pura chama-se Estética Transcendental . Na Estética Transcendental Kant nos dá as duas sensibilidades puras - o espaço e o tempo .
‘Pura’, em Filosofia, é sinônimo de a priori . ‘Pura’ e a priori são a mesma coisa. Quantas sensibilidades empíricas nós temos? Olhos, ouvidos, olfato… Agora, quantas ’sensibilidades puras’, quantas sensibilidades a priori ? Duas. Espaço e tempo . Então as sensibilidades a priori chamam-se: e stética transcendental .
- O tempo e espaço pertencem a? Estética transcendental.
O Kant vai escrever a Crítica da Razão Pura dividida em três partes A primeira parte chama-se Estética Transcendental , ela trata da sensibilidade. Sinônimo de sensibilidade? Intuição. A intuição são duas: a sensível e a priori . O Kant chama de ‘estética transcendental’ à conjunção intuição sensível e a priori . Então, na Estética Transcendental ele vai dar uma explicação do que é o tempo e o espaço .
O tempo e o espaço são transcendentais? E este copo aqui, é o quê? Empírico! (Os nomes exatos!) Então, ele vai fazer a explicação do que é o a priori . Ele vai explicar o a priori . Quantos a priori ? Dois: tempo e espaço. Ele começa explicando o a priori com uma prática chamada EXPOSIÇÃO METAFÍSICA. Chama-se exposição metafísica .
- O que é a ‘exposição metafísica’? A exposição metafísica foi tudo o que eu fiz nesta aula: mostrar pra vocês que existem dois elementos que são a priori - o tempo e o espaço. (Certo?) Foi isso que eu fiz! Então, a exposição metafísica responde a uma pergunta kantiana chamada: Quid facti? Qual é o fato do conhecimento?
O fato do conhecimento é que nós temos o tempo e o espaço como dois a priori : condição de possibilidadeda psicologia e da física . Isso é a exposição metafísica do tempo e do espaço, que ele faz na estética transcendental . Mas em seguida ele vai fazer o que se chama (aqui que me importa!) a EXPOSIÇÃO TRANSCENDENTAL.
- São quantas exposições? Duas. Na exposição metafísica ele mostra que existem dois elementos na nossa sensibilidade que são a priori - o tempo e o espaço. Então, a exposição metafísica é exibir que existem na nossa sensibilidade duas formas a priori : tempo e espaço. Em seguida ele vai fazer o que se chama exposição transcendental . E a exposição transcendental é pra mostrar por que a experiência se submete ao transcendental .
- Por que a experiência se submete ao transcendental? Porque na exposição metafísica ele nos mostra quais são os dois a priori . Na exposição transcendental ele nos mostra por que o mundo físico se submete ao transcendental. Então, a ‘exposição metafísica’ chama-se exposição de fato . A ‘exposição transcendental’ chama-se exposição de direito .
O que quer dizer de direito ? A submissão do empírico ao transcendental.
A submissão do empírico ao transcendental .
Al.: Ou seja, como o contingente se submete ao necessário .
Cl.: Isso! Como que o a posteriori se submete ao a priori . (Tá?) Então, quando você fala do a priori , ou quando você fala do transcendental… o sinônimo do transcendental é de direito . É a mesma coisa: transcendental e de direito é a mesma coisa: é a submissão que o empírico faz ao transcendental .
Agora, eu vou mudar tudo !
(Eu não sei se eu fui bem… Eu fui cortando, não é? Bem, eu tenho pouco tempo de aula, eu não pude fazer uma coisa mais apurada, como é da minha maneira de ser. Eu gosto de dar uma aula de cinco horas para que as pessoas entendam aquilo com perfeição.
Al.: Cláudio, de direito - é igual ao transcendental?
Cl.: A compreensão disso?
Al.: É.
Cl.: Vamos lá. De fato = metafísica ; de direito = transcendental . De fato é o fato de nós termos dois a priori - isso que é exposição metafísica . É o fato de nós termos quantos a priori ? Espaço e tempo. De direito é o fato desse transcendental se aplicar ao empírico : o necessário e universal se aplicarem ao contingente e singular . Isso que é o de direito.
Aluno: O empírico se submeter…
Cláudio: O empírico se submeter ao transcendental. Porque não há nenhuma razão para o empírico se submeter ao transcendental! Então, ele chama isso de direito . Então, de direito o empírico está submetido ao transcendental . Então, exposição transcendental: exposição de direito exposição metafísica:
exposição de fato .
Aluno: D e direito é o a priori ?
Cláudio: De direito é o a priori ; o de fato também é a priori : o de direito é o a priori no mundo , é o a priori sendo aplicado ao empírico – isso é que é de direito . É o fato de que o espaço e o tempo são a priori , mas eles não vivem no universo transcendental – eles estão no mundo físico ; eles estão no mundo empírico . Quer dizer: de direito eles se aplicam àquele mundo físico ; mas eles não são empíricos !
O de direito significa que alguma coisa que não pertence ao mundo empírico pode ser pensada: é o espaço e tempo. Porque a natureza está submetida àquilo dali. As regras da natureza são o transcendental , o a priori .
- O que é a geometria? Aonde é que você faz geometria? Em que matéria você faz geometria? A geometria se faz no espaço - a geometria é uma prática a priori .
- E a aritmética? No tempo . Então a aritmética e a matemática não se dão no empírico - mas no transcendental . Faz-se aritmética no tempo e geometria no espaço . Então, poder aplicar o espaço e o tempo no mundo empírico chama-se – exposição transcendental ou exposição de direito . De direito , isto cabe no mundo empírico; e essa expressão ‘de direito’ vai se tornar usual na Filosofia. Que quer dizer então de direito ? De direito é a presença de alguma coisa – que não é empírica – no mundo empírico.
Al.: Você vai falar como se dá essa relação?
Cl.: Não, agora eu vou expor pra vocês uma coisa deleuzeana – que é o que me importa!
- O que é a exposição metafísica? É o fato de na nossa subjetividade haver o espaço e o tempo como transcendentais . Agora, o fato de haver transcendentais – não significa que o empírico tem que se submeter ao transcendental. Não significa isso! Mas significa que – a partir do momento em que há uma exposição transcendental – o transcendental está no mundo empírico: está lá no mundo empírico - é isto que está sendo dito! Não existe o transcendental lá em cima e o empírico cá embaixo : o transcendental está incorporado ao mundo empírico – isso que é o de direito ; o transcendental incorporado ao mundo empírico!
Eu vou tentar uma exposição bergsoniana pra vocês entenderem:
Aluna: O transcendental incorporado já é Deleuze, ou ainda é Kant?
Cl.: Deleuze! Não! – Deleuze fazendo uma leitura magistral em Kant . Uma leitura perfeita em Kant ! (É exatamente isso que Kant quer dizer.
Eu, agora, vou pegar um filósofo que fez seu trabalho no século XIX, no fim do XIX para o XX. Esse filósofo chama-se Bergson . O trabalho de Kant foi feito no fim do XVIII para o XIX.
Nós, os sujeitos humanos, somos dotados de uma prática chamada percepção? (Todo mundo está de acordo com isso!?) Agora vamos avaliar o que é uma percepção? Por exemplo, eu estou percebendo o G–. Mas esse ato de eu perceber o G– não me provoca nenhum espanto – porque eu conheço o G–; eu sei quem é o G–: o que significa que a minha percepção é penetrada de memória .
Então, a percepção é penetrada de memória: sempre que vocês percebem alguma coisa, a memória está junto. (Vocês entenderam?)
Agora, por exemplo: você sobe numa bicicleta e sai andando. Para andar numa bicicleta, você tem que percebê-la. Mas, quando você anda numa bicicleta, você não anda memorizando os gestos que tem que fazer. Aquilo é um processo do HÁBITO. Então a sua percepção – qualquer percepção - é penetrada de memória e de hábito .
Todas as percepções são penetradas de memória e de hábito.
Mas é ainda mais grave do que isso: a memória que a gente lança numa prática perceptiva são todos os nossos sentimentos: todos os nossos sentimentos entram ali , [naquela prática perceptiva.]
Por exemplo, eu estou sentado aqui – eu sou um mocinho do faroeste americano. Eu estou sentado e aí eu levanto os olhos e vem andando o Jesse James (que é um bandido do faroeste); imediatamente eu saco, saquei: pah! Por quê? Porque a minha percepção está penetrada de memória , penetrada de hábitos e penetrada de sentimentos . A nossa percepção é toda penetrada de memória , de hábitos e de sentimentos !
Quando eu vejo uma pessoa que eu gosto, eu faço assim [faz uma cara de alegria]; quando eu vejo uma pessoa que eu não gosto eu faço assim [faz uma cara de aborrecimento]. Isso é o sentimento atravessando ali dentro , tá passando ali dentro. Então, a percepção - enquanto uma atividade humana - tem memória ? Tem hábitos ? Tem sentimentos ? Vamos acrescentar mais uma coisa. Ela tem projetos ? Por exemplo: quando eu vejo uma pessoa que eu gosto, eu vou projetando alguma coisa que eu vou fazer. Então, a percepção humana tem memória, hábitos, sentimentos e projetos. E ela, a ‘percepção humana’ se chama percepção empírica .
Por exemplo, um rato tem percepção? Tem. Claro que, no momento em que o rato tem percepção, ali passam os hábitos do rato, a memória do rato, os sentimentos do rato… Um rato percebe um gato , imediatamente o sentimento entra ali, a memória entra ali e… o rato se manda! Então, a nossa percepção é empírica ou subjetiva . A percepção é um dado subjetivo ; quer dizer – o mundo físico não tem percepção; só o subjetivo tem percepção. (Tá?)
O Bergson pega a percepção…
- Quais são os elementos que nós estamos colocando na percepção? Memória, sentimentos, hábitos, projetos. O Bergson pega a percepção e arranca da percepção o hábito , a memória , o sentimento e o projeto : e constitui uma PERCEPÇÃO PURA.
- Qual o sinônimo de puro? A priori .
Ele produz uma percepção a priori . Mas essa percepção a priori ele aplica no mundo, de direito! Então, quando Bergson constrói a filosofia dele, o ponto de partida da filosofia dele é a concepção de uma percepção de direito .
Ele vai construir isso… (E ninguém precisa se preocupar que não sabe, porque eu vou expor o que é.) Ele constrói, ele produz uma percepção de direito - ou a priori . Logo, uma percepção de direito e a priori é diferente de uma percepção com memória, etc, etc.? O que eu chamei de uma percepção com memória, etc.? Uma percepção subjetiva . Por isso uma percepção ideal , ou uma percepção a priori , ou uma percepção de direito chama-se ASSUBJETIVA.
Percepção assubjetiva!
Percepção assubjetiva!
O Bergson vai dizer que a natureza - em suas origens – era constituída de luz numa velocidade infinita; e – no meio dessa luz – existiam infinitas percepções. A natureza, na sua origem, não era apenas matéria ; ela era matéria mais percepção .
Um pouco do que está acontecendo aqui, é que o Kant produziu transcendentais, produziu o a priori - e o Bergson também vai produzir. Só que o Bergson e o Kant têm uma diferença – porque o a priori do Kant , o transcendental do Kant , o de direito do Kant é uma CONDIÇÃO de POSSIBILIDADE; enquanto que o a priori de Bergson , o de direito de Bergson , o transcendental de Bergson - é GÊNESE do EMPÍRICO.
A grande diferença de Deleuze para Kant é que para Kant o transcendental é uma condição de possibilidade. Para Deleuze o transcendental é genético.
A grande mutação da Filosofia – e que é insuportável pra todo mundo… – é que o Deleuze pensa o transcendental como gênese . Como GÊNESE. Então…
(Aqui, nós estamos em um momento muito difícil!)
Al.: Cláudio, a passagem da condição de possibilidade para a gênese é a passagem do subjetivo para assubjetivo?
Cl.: Do subjetivo para assubjetivo? É. É exatamente isso. É uma pergunta muito difícil, a minha resposta vai ser muito particular. Porque o Kant colocou, quantos subjetivos?
Al.: Dois.
Cl.: Transcendental e psicológico. E constrói o transcendental com o modelo do psicológico. Isso que ele faz! Ele aplica o modelo psicológico no transcendental. O Bergson não. O Bergson vai constituir um transcendental que nada tem a ver com o empírico.
O problema que está acontecendo aqui é que a partir de determinado momento da história do pensamento o transcendental entrou no pensamento – com o Kant . Então, nós temos o subjetivo, o objetivo e o transcendental.
O transcendental de Kant é uma condição de possibilidade. Marquem assim… (Nós não vamos esgotar isso hoje, é impossível!) Então o transcendental de Kant é uma condição de possibilidade para o mundo empírico – o mundo da experiência. Se não houver a condição de possibilidade – não há experiência! Para o Bergson, o transcendental é gênese do empírico. Então nasceu uma diferença, que o transcendental de Kant é uma condição de possibilidade e o do Bergson é a gênese do empírico .
O transcendental de Kant é uma condição de possibilidade. Marquem assim… (Nós não vamos esgotar isso hoje, é impossível!) Então o transcendental de Kant é uma condição de possibilidade para o mundo empírico – o mundo da experiência. Se não houver a condição de possibilidade – não há experiência! Para o Bergson, o transcendental é gênese do empírico. Então nasceu uma diferença, que o transcendental de Kant é uma condição de possibilidade e o do Bergson é a gênese do empírico .
Cl.: Mais vinte minutos! Deixa só eu terminar essa aula aqui. Porque se eu conseguir – eu não quero conseguir muito hoje não… [Apenas] um detalhe :
Se eu conseguir poder chegar aqui na próxima aula e voltar a falar da percepção do Bergson , e usar a percepção ideal do Bergson - não tem memória, não tem hábito, não tem sensação, não tem sentimento… Por isso , em Bergson, a percepção é ASSUBJETIVA. E o Bergson vai povoar a natureza dessas percepções assubjetivas . Vão se chamar eus larvares .
[...]a Crítica da Razão Pura , e nessa Crítica da Razão Pura , ele coloca os três transcendentais dele: a estética, a analítica e a dialética. O Bergson , ele escreve um livro chamado Matéria e Memória que tem o mesmo valor que a Crítica da Razão Pura . Mesma coisa! Mais ou menos no que se chama parágrafo trinta e três…
(A edição brasileira não é dividida em parágrafos. É uma coisa de ALUCINAR - como é que pode não dividir o livro não ser dividido em parágrafos: é de irritar! O ZL– dividiu a edição brasileira do livro pra mim em parágrafos. Ele copiou da edição francesa – porque se eu puder indicar por parágrafo é muito mais fácil! Mais ou menos no parágrafo trinta e três da edição brasileira o Bergson vai falar – pela primeira vez – na percepção a priori . Matéria e Memória, primeiro capítulo.
Eu vou fazer uma leitura de Matéria e Memória … por ai.
Eu vou fazer uma leitura de Matéria e Memória … por ai.
Então, na hora em que ele coloca a percepção – que ele chama de PERCEPÇÃO IDEAL .. .
A percepção ideal é a percepção menos os preceitos humanos .
É a percepção DESUMANA – ela não tem nenhum elemento humano, memória e etc. – é PERCEPÇÃO PURA! Por exemplo, uma máquina fotográfica – segundo essa definição do Bergson – não tem percepção. Percepção é apreender alguma coisa , apreender uma imagem . Isso que é percepção pura . Então, o Bergson diz que – antes do nascimento da vida – já existia percepção: ele chama de percepção ideal ou CONSCIÊNCIA DE DIREITO.
Então, a consciência de direito… Ele disse que a natureza… (Muito difícil esse momento – Sobretudo para quem não leu a Matéria e Memória ).
A consciência de direito é imposta à natureza. A natureza é penetrada de infinitas consciências de direito . E dessa composição – consciência de direito e matéria – vai nascer A VIDA: as consciências de fato .
Então, o processo de Bergson aqui é a consciência de direito , a percepção ideal . O melhor nome para se dar a essa ‘percepção ideal’ é assubjetiva ou MÁQUINA.
Máquina é um conceito que se opõe a sujeito e objeto . Então, a percepção ideal, a consciência de direito – é uma máquina, porque não é sujeito : não há sujeito e objeto. Sujeito e objeto só nascem quando essa percepção se humaniza, ou melhor, se animaliza . No vivo! Aí nascem sujeito e objeto – antes não havia.
O nosso caminho está definido – é estudar o assubjetivo do Bergson, apoiado no transcendental do Kant . Eu vou me apoiar no transcendental do Kant e fazer um trabalho de uma aula só – e, a partir dela, acho que vocês já sabem tudo o que eu quero, ou seja: não se pode pensar em nada , sem se pensar o transcendental . Não se pode pensar o transcendental como se fosse condição – e, sim, como se fosse gênese: a gênese de tudo!
Fonte:
Prof.Claudio Ulpiano.
http://claudioulpiano.org.br.s87743.gridserver.com/?p=142
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