quarta-feira, 16 de março de 2011

BASES EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOLOGIA HUMANISTA - BERGSON




   A Psicologia Humanista é caracterizada por possuir ramificações, tendo cada uma delas diferentes maneiras de analisar seu objeto de estudo. Giovanetti (in Greening, 1975) divide a Psicologia Humanista em duas grandes escolas:

1 - A escola americana, originária do Humanismo individual, onde se encontram a Psicoterapia Humanista-Existencial, embasada em Kierkegaard, tendo como principal representante Carl Rogers e a Psicoterapia Fenomenológico-Existencial, com Rollo May como principal representante;

2- A escola européia, berço das principais idéias fenomenológicas e existenciais, encontrando-se aí também a Psicoterapia Fenomenológica Existencial caracterizada pela Daseinsanaluse de Biswanger e a Análise Existencial de Medal Boss, além das Psicoterapias Antropológicas e da Psicoterapia Antropológico-Fenomenológica. Ou seja, parece haver uma ligação entre as Psicologias Humanistas e a Fenomenológica.

   Um dos mais importantes precursores das idéias humanistas é Henri-Louis Bergson (1859-1941). Nasceu em Paris, em 18 de outubro de 1859. Numa época em que as investigações científicas ditas positivas estavam no auge, o que o leva a exaltar e inovar a metafísica. Na realidade, Bergson fez uma crítica aos modelos mecanicista e finalista, os quais, para ele, são fruto de um olhar inteligente frente aos fenômenos, um olhar que busca a compreensão dos mesmos.

Contrapondo-se a isto, afirma que a realidade se define pelo movimento, em sua simplicidade indivisível e em sua totalidade, englobando mais que as partes componentes às quais se referem às explicações mecanicistas e finalista. Tal movimento é conduzido pelo impulso vital (“élan vital") ou impulso original da vida, o qual define como a tendência a agir sobre a matéria bruta.

Assim, para ele, a vida e matéria são indivisíveis: a vida evolui ligada à matéria e, caracterizada pelo movimento e pela criação, atravessa a matéria inerte, destacando nela seres vivos. Portanto, o impulso da vida consiste numa exigência de criação e, ao encontrar a matéria, cujo movimento é oposto ao seu, introduz nela a indeterminação e a liberdade.

   Bergson compreende a inteligência e o instinto como duas formas diferentes, mas complementares, de atuação de matéria bruta. Uma das diferenças apontadas pelo autor entre essas duas formas diz respeito ao fato de o instinto caracterizar-se pela faculdade de utilizar e construir instrumentos organizados e, portanto, mecanismos inatos, ao passo que a inteligência caracteriza-se pela faculdade de fabricar e empregar instrumentos inorganizados; outra diferença é que o instinto tende à inconsciência, enquanto a inteligência é orientada no sentido da consciência e, portanto, envolve um conhecimento pensado (embora essa diferença seja mais de grau que de natureza); no caso do instinto, o conhecimento inato recai prioritariamente sobre as coisas e, na inteligência, sobre as relações.

   Termian afirmando que a evolução ocorre pela penetração da consciência na matéria, arrastando-a à organização, e aponta a inteligência como possibilidade de exteriorização da consciência. A partir disso, Bergson coloca a consciência como princípio motor da evolução e acaba por conceber um lugar privilegiado ao homem entre os seres conscientes, uma vez que nele a consciência encontrou saída para libertar-se, fazendo-o a partir das complicações e embaraços da ação. Esta concepção espiritualista da evolução, entendida como uma resposta ao evolucionismo materialista é denominada como a "evolução criadora".

   Se o "élan vital" corresponde a uma tendência da realidade, enquanto movimento, ao equilíbrio, crescimento e organização, também o ser humano é dotado desta tendência. A idéia postulada por Bergson referente ao "eu profundo" e "eu de superfície" expressa a presença desta concepção em suas formulações acerca do Sr humano e seu psiquismo.

O "eu de superfície"
caracteriza-se por ser estático, mecanizado e restrito
ao que poderia se denominar
"eu social" do indivíduo.

O homem pode ser capaz de viver apenas este "eu de superfície" e, neste caso, jamais chegará a experimentar a liberdade, já que o "eu profundo" (que diz respeito ao "eu pessoal") quer, se apaixona, evolui, cresce constantemente, sendo acima de tudo criador, livre dinâmico, e pode ou não ser atingido pelo homem.

   O "eu profundo" caracteriza-se por ser uma duração pura e irreversível, em permanente mudança qualitativa e irrepetição contínua, que mantém sua identidade por intermédio da memória. A representação proposta por Bergson acerca da ação inconsciente esclarece a idéia da memória como manutenção de uma identidade no processo contínuo de transformação. Ele o faz através da imagem de um cone: a base seria o inconsciente e cresceria sempre pela aquisição de novas experiências; o vértice representaria o momento presente, de inserção do psiquismo na vida. No interior do cone, os elementos psíquicos apresentam duplo movimento: do vértice para a base (experiências presentes que passam para o inconsciente) e da base para o vértice (o inconsciente emerge atuando sobre o plano da consciência). O crescimento incessante do cone significa que cada qual carrega atrás de si todo o seu passado, que é conservado integralmente.

   O livre-arbítrio encontra-se no "eu profundo" e constitui a verdadeira personalidade do homem. Assim, Bergson apresentava-se como defensor e reformulador do livre-arbítrio, contrapondo-se às teses deterministas que estavam em voga na sua época. Reconhece, entretanto, que a maioria dos homens vive apenas o "eu de superfície", sem jamais experimentar a liberdade.

   Para Bergson, exercitando-se na busca da liberdade e do livre-arbítrio o homem poderia aprender a essência e a aparência dos fenômenos, de tal modo que, propondo o princípio do "élan vital" como fundamento do homem e sua atividade, Bergson o propõe também como fundamento do conhecimento. Assim, se conta que a inteligência e o instinto são formas diferentes, mas complementares de ação sobre matéria, é na intuição que vai encontrar a síntese destas duas formas (Penna, 1991).

A inteligência, ao elaborar conceitos e ao trabalhar analiticamente, fragmenta, especializa e fixa a realidade, que é nela um puro tornar-se. Essa atividade do intelecto, típica do "eu superficial", não proporciona o conhecimento da natureza mesma dos objetos, porque os conceitos não correspondem à essência do objeto.

As essências só podem ser atingidas através da intuição, que possibilita o encontro do "eu profundo" com a intimidade do objeto. A intuição permitiria a apreensão do que é a vida, dinamismo, mudança qualitativa, duração e criação. Por isso, a metafísica teria na intuição o seu principal método.
   

PSICOLOUCOS
http://www.psicoloucos.com/Psicologia-Humanista/bases-epistemologicas-humanista.html

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